Curitiba, 22 de Abril de 2018
Minha profunda gratidão a Curitiba
Há quarenta e sete anos atrás eu era uma jovem de 15 anos que chegava a Curitiba para estudar, vindo de Videira, SC. Fui morar no Bigorrilho, atrás do Colégio Leôncio Correa onde fiz o segundo grau. As estradas ainda eram de chão e o asfalto estava bem longe. Tinhamos um ou dois ônibus de bairro. Parque Barigui talvez fosse algum projeto, não se sabe.
Aos poucos a cidade foi se construindo, crescendo, tomando forma. Tudo ficando cada vez mais bonito e eu fui ficando. Poucos anos depois eu me formava em Psicologia pela PUCPr e numa busca por emprego fui procurar o Dr. Álvaro Dias que era então Superintendente do INPS. Este gentilmente me ofereceu uma carta de indicação para a CLIMEP – Clínica Médico Psicológica que ficava na Rua Dom Alberto Gonçalves nr. 80, nas Mercês, quase esquina com a Telepar. Digo isso porque fui admitida nesta clínica para estágio em psicologia. Era a quarta clínica em todo Paraná a ter convênio com o INPS e com muitas outras entidades como: Telepar, Ipê, Patronal, etc. Em pouco tempo a proprietário Dra. Ivette Gusso Lopes colocou a clínica à venda e, devido às circusntâncias da época, quem comprou a clínica fui eu mesma.
Assim me tornei a proprietária desta clínica por doze anos em que fiz uma belíssima trajetória e acompanhei meu crescimento com o de Curitiba. Quando encerrei esse tempo, vendendo a clínica, também a Telepar estava privatizando.
Creio que Dr. Álvaro Dias nunca ficou sabendo de tudo isso porque na minha juventude não tive a sutileza de agradecê-lo ainda que o faça eternamente em meu coração, pois foi através de uma generosidade sua, que todo meu caminho se perfez.
Atendo até hoje em consultório particular. No entanto, no ano de 2000 contribuí com a cultura em Curitiba abrindo a Lyra Livrarias que ficou por cinco anos na Rua Emiliano Perneta – Centro, quando nosso maior público de vendas foi a comunidade judaica, por sermos os vendedores diretos da Livraria e Distribuidora Sefer, período em que nosso Prefeito era o Dr. Jaime Lerner. Inauguramos dia 03 de agosto e estavamos indo muito bem, quando no dia 11 de setembro ocorreu a explosão das Torres Gêmeas nos EUA o que afetou todo o comércio diretamente durante meses. Pior que isso, iamos representar a Edições Loyola e estavamos com tudo pronto para tal, quando então mais para o final do ano, houve um incêndio na distribuidora em São Paulo queimando mais de dois milhões de livros.
Tempos difíceis nos esperavam e nosso público leitor vem, como a própria cidade crescendo aos poucos. Fechamos em 2005, para não ter que diversificar entre livros e outros produtos. De qualquer forma, como mantive uma trajetória acadêmica indo do Mestrado ao Doutorado e deste ao Pós-doutorado, temos novidades. Meu projeto é em Kierkegaard na Universidade Federal do Paraná e este autor foi trazido para o Brasil pelo Prof. Dr. Ernani Reichmann.
Este, nasceu em Passo Fundo em 1920, estudou Direito em Curitiba e bacharelou-se em 1945. Foi deputado no Rio Grande do Sul, mas retornou e fixou residência novamente em Curitiba em 1951 e de 1953 até 1981 atuou como professor do departamento de Ciências Econômicas da UFPR. Atuou como secretário de Governo de Bento Munhoz da Rocha Netto e Ney Braga, além de ter feito importantes contribuições à Secretaria da Fazenda do Estado do Paraná. Apesar de ser um homem público, sua maior contribuição foi a cultura brasileira pela sua vasta produção autobiográfica e as suas traduções do filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard, escritos que tomados em sua totalidade avultam cerca de 90 obras – ainda não podemos afirmar com exatidão o número, pois muitas delas foram feitas em pequenas tiragens e outras apenas mencionadas no corpo dos textos ou nos escritos completos.
Ernani Reichmann, e a esposa Annie Tempel, passaram o ano de 1959 em Copenhagen, na Dinamarca, indo ao encontro de Kierkegaard. É interessante notar que, Ernani aprendeu o dinamarquês para nos anos seguintes traduzir Kierkegaard direto de seu idioma, o fruto de seu trabalho foi a monumental seleção de textos, que sofreu duas edições uma em 1972 e outra em 1978.
Tais obras se encontram hoje na Biblioteca de Livros Raros da UFPR e tivemos neste mês de agosto, após o Minicurso Kierkegaard com o Prof. Dr. Jorge Miranda de Almeida, convidado para complementar meu estágio pós-doutoral, juntamente com o diretor do departamento de Filosofia o Prof. Dr. Antônio Edmilson Paschoal, a intuição de estudar a possibilidade da digitalização destas obras raras, cujo berço é Curitiba.
É nosso propósito levar em frente essa possibilidade pois será um destaque para Curitiba e em nível nacional que esse berço de uma cultura rara seja reconhecido e conhecido por estudiosos de todo o mundo.
Desse modo, nessa tão breve síntese, minha Carta à Curitiba, é de profunda gratidão a todos e especialmente a alguns, incluindo você minha querida Iza Zilli, a quem certamente a cidade tanto honra quanto agradece!!!