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“Adoro a natureza” diz Simone Campos

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Curitiba, 11 de Novembro de 1990

 

SIMONE CAMPOS; talentosa e de grande sensibilidade, começou a destacar-se muito cedo na pintura. Trabalha oito horas por dia e se aprimora constantemente pesquisando e buscando novas técnicas. Com dois cursos em Florença, Simone reflete em suas paisagens, arte e amor pela natureza.

 

lzza – Como e quando você começou a sentir o dom pela pintura?

Simone – Desde criança eu sempre gostei. Estudava em colégio de freiras e rabiscava as carteiras e paredes o que sempre dava a maior confusão. Quando fiz magistério no Sagrado, as irmãs me convidaram para dar aulas mas resolvi tentar o vestibular de Belas Artes. Passei. Me lembro que, quando eu tinha 9 ou 10 anos eu fiz aulas com o Luiz Carlos de Andrade Lima, de desenho, e pintura com Ikoma, o que prova que, desde criança a pintura é o meu ideal.

Izza – Depois de cursar belas artes, qual foi o passo seguinte?

Simone – Me formei e fui para Florença onde fiquei dois meses estudando em 86. Em 1988 voltei para lá mais três meses, estudando, pesquisando e contactando com artistas. Voltei, casei e continuei a minha pintura. Acho que gosto tanto de pintar porque venho de uma família de artistas. Meu pai também cursou Belas Artes, minha avó, Ester Rosas tem atelier de pintura em São Francisco do Sul, minha mãe Rosemary Campos também pinta.

Izza – Estas viagens acrescentaram muito a tua arte?

Simone –A primeira vez que fui me especializei na Escola Lourenzo Di Medicci e em 88 no Instituto de Arte e Restauro. A experiência foi fantástica porque além do aprendizado nas escolas a gente conhece muito na viagem. Depois de Florença viajei pela Europa inteira visitando museus e pintores de fama. Foi uma experiência inesquecível.

Izza – Você não pensou em ficar por lá?

Simone – Eu fui para ficar mesmo, mas já havia conhecido Enio, meu marido e acabei voltando. Em nove meses de conhecimento nos casamos.

lzza – Na pintura qual e o teu tema preferido?

Simone – Trabalho muito com retrato mas sou paisagista. A paisagem me dá satisfação por ser um tema sincero, gostoso, capaz de captar momentos verdadeiros. Isso me traz paz de espírito porque eu adoro a natureza, por isso acabei me especializando nela.

Izza – Como você vê as artes aqui em Curitiba para os que estão começando?

Simone – Aqui há muitos pintores batalhando pelo seu espaço. Eu tive muita sorte mas reconheço que me dediquei a fundo. Desde os meus dezessete anos andei de galeria em galeria com quadros debaixo do braço. As vezes era recusada mas não levei em conta e continuei a minha escalada. De repente fui para a Acaiaca que me deu a maior força montando minha primeira individual em 86. O trabalho é super cansativo mas as pessoas não devem desanimar. Acho que para todos é difícil mas com perseverança as coisas caminham bem.

Izza – Você acha difícil a vida de artista?

Simone – Pode não parecer difícil, mas a vida do artista exige muita dedicação. Eu pinto oito horas por dia, das oito da manhã até as seis da tarde e só dou uma parada para o almoço. Em época de exposição trabalho até de madrugada mas depois quando vejo tudo pronto acho super compensador.

Izza – Ate agora quantas individuais você já fez?

Simone – Esta é a quinta individual que faço. Fiz uma semi-individual com o Fukuda, uma em Ponta Grossa, outra em Pato Branco e na Acaiaca é a terceira vez que realizo. Estou expondo trinta e oito trabalhos desta vez.

Izza – Por que sempre na Acaiaca?

Simone – Porque eu devo muito a eles que sempre foram super bacanas comigo, o Jorge, o Luiz Antonio e o Luiz Fernando sempre me deram a maior força e de repente criamos uma grande amizade. É uma das galerias mais tradicionais daqui além de ser um bom espaço.

Izza – Como você distribui o teu trabalho e a casa?

Simone – Tenho duas moças que me ajudam e estão há tempo comigo. Elas dão conta da casa. Assim posso ficar no meu cantinho fazendo as minhas pinturas, porque confesso que não tenho muita queda para afazeres domésticos.

Izza – O que você curte fazer nas horas de descanso?

Simone – Adoro fazer ginástica e só paro em época de exposição. Eu já fiz até ginástica olímpica e cheguei a ganhar medalha de ouro.

Izza – Atualmente como você vê o movimento no mercado das artes?

Simone – Claro que depois do Plano Collor, as coisas diminuíram o ritmo, houve uma queda no mercado em geral, mas temos que esperar para ver o que acontece. Sinto que as pessoas estão começando a querer investir porque arte é realmente investimento.

Izza – Numa exposição o que te gratifica mais?

Simone – Eu fico super nervosa, duas noites sem dormir. Acho que o mais importante são os elogios que recebo das pessoas, as mensagens dos que chegam. Não há dinheiro que pague este incentivo.

Izza – Há rivalidade ou apoio entre os integrantes da classe artística?

Simone – Eu sou meio desligada do meio porque vivo mais no meu canto, em minha casa com meu marido e minha pintura. Pelo que eu sinto pelos comentários, deve haver uma certa rivalidade como em qualquer outra profissão isso é normal.

lzza – Quais são teus planos para o futuro?

Simone – Primeiro quero dar uma boa descansada. Tenho uma individual a cada dois anos na Acaiaca. Preciso de um bom tempo para me preparar porque expor não é somente pintar os quadros e pendurá-los na parede. Gosto de mostrar alguma coisa diferente, um trabalho mais aperfeiçoado. Quero me aperfeiçoar cada vez mais, evoluir, estudar e se puder, até fazer um curso fora. Gosto de trabalhar bastante, não paro e estou vinte e quatro horas ligada. É isso que pretendo no futuro.

Izza – Vida social, você gosta?

Simone – De temperamento sou super ansiosa, quero fazer de uma só vez e as vezes sou tranquila e tento ajudar todos que precisam. Sempre estou preocupada com o meu trabalho. Já fui muito vaidosa na minha fase de adolescência, agora sou, na medida certa. Procuro estar bem com todo o mundo e facilitar as coisas sempre.

 

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