Curitiba, 6 de Maio de 1990
MARIA HELENA : É uma expert em turismo, pois há dezesseis anos se dedica com carinho ao seu trabalho, liderando a “AEROMAR TURISMO” com dinamismo e competência. Hoje, nessa conversa, ela nos conta como vai a sua agência, o que pensa e como anda o turismo atualmente. Esta é Maria Helena.
Izza – Por que turismo?
Maria Helena – Eu comecei há 16 anos atrás com a cara e a coragem. De turista passei para o turismo. Para ser sincera, pensei em turismo porque não sabia fazer outra coisa. Me entusiasmei e comprei uma carta de câmbio em Foz. Depois abri o escritório aqui e acabei comprando a Aeromar Turismo que já existia há muito tempo. Acho que é uma das empresas mais antigas no ramo. Comecei a trabalhar o dia inteiro e com 2 anos peguei prática. É uma loucura! A gente tem tudo em termos de viagem. Desde ônibus até o navio mais sofisticado. O ambiente é ótimo, gostoso, até com pessoas de fora do Brasil. Enriquece bastante e os novos conhecimentos são válidos. Hoje em dia não teria mais condições de parar de trabalhar.
Izza – Você acha que hoje já existe uma boa estrutura nas agências? Já temos condições de atender bem?
Maria Helena – Não sei exatamente quantas estariam preparadas, porque você sabe que Curitiba é uma das cidades que mais têm agências em proporção ao número de habitantes. Hoje creio que já houve uma seleção. Acredito que até em termos de crescimento, é importante que tenhamos um bom nível.
Izza – Ter uma agência de turismo é vantajoso?
Maria Helena – As comissões são baixas. Se você paga ISS e Imposto de Renda, não sobra muito. Eu sempre digo: agente ganha pouco mas se diverte bastante. O faturamento deve ser alto para que valha a pena. Contas boas são imprescindíveis. Se eu deixar de pagar a Companhia Aérea amanhã eu perco o bilhete. Não pode haver atraso. Mas, com todas as dificuldades que possam existir.eu não deixaria jamais de lidar com turismo. Acho que escolhi bem porque tem sido gratificante em termos profissionais e de amizades, etc. Conquistei nestes 15 anos o meu espaço, a segurança de não vender aquilo que eu ache que não vai dar certo. Lógico que às vezes acontecem contratempos que impedem de nossa vontade, mas de um modo geral procuramos trabalhar com boas operadoras.
Izza – O curitibano demonstra preferência por que tipo de viagem?
Maria Helena – É bem diversificado. Claro que às vezes acontece um pouco de modismo. Por exemplo fomos viajar no navio Soberano dos Mares. De repente as vendas foram surpreendentes. Todos voltaram comentando e isso foi um incentivo. O importante para que eu venda bem é conhecer o local pessoalmente, assim tenho condições de divulgar melhor. Aruba vende bem aqui em Curitiba, e agora Buenos aires que sempre é gostoso. Hoje há muita opção de roteiros diferentes. O Canadá com Alaska está surgindo bastante. Navios que fazem o Alasca, pacotes de
7 dias. Paisagens lindas, e depois não é tão frio assim. Nessa ocasião a temperatura é de 8 a 24 graus e o centro chega a 30 graus. A empresa que faz os navios Holland Caribean são proprietários do navio e tem a parte terrestre, trens, ônibus, e treze hotéis. Esta empresa holandesa sediada nos Estados Unidos é sensacional! Você pode viajar em barcos menores, pode embarcar em Vancouver, fazer um cruzeiro de 7 dias, depois volta de trem, ônibus, vem conhecendo. Podemos ir lá quatro meses e meio por ano. Desde maio até setembro, e fazer pacotinhos acoplados com sua viagem de 10, 12 dias ou quantos você quiser. O Canadá também é muito interessante. Todos que já tiveram a oportunidade de chegar até lá voltaram encantados, é uma opção nova. A Austrália e a África também é um roteiro diferente.
lzza – De alguns anos para cá você acha que o turismo mudou?
Maria Helena – O que me surpreende é que em todos os lugares há gente, internacionalmente falando. Como turista, me recordo que eu viajava com uma tarifa normal, como milhares e podia mexer no bilhete quantas vezes desejasse dentro da milhagem, o que hoje em dia não existe mais e você tinha opções de vôos. Atualmente se você sair a partir de maio para a Europa sem lugar reservado, sem voo, encontra dificuldades de hotel em mesmo de voar. Isso nos assusta um pouco no tocante às agências de Turismo. Não podemos deixar o turista sair assim ao Deus dará. Deve estar tudo marcado.
Izza – Você acha que o brasileiro é disciplinado para viajar?
Maria Helena – Não é, e isso é um ponto que nos traz certas dificuldades. Por exemplo, agora apareceu uma série de passagens com vantagens nacionais, grupos com 25% de desconto, mas é uma passagem que não remite, não troca o dia, não reembolsa. Acho que não serve para nós porque queremos sempre as vantagens dos pacotes e certas regalias como trocas, etc. Ela não pode ser trocada porque ela em sí já diz que é uma passagem especial, tem o seu dia de ida e de volta. Claro que não dá para abrir mais do que 30 dias, mas o brasileiro quer sempre dar um jeitinho e isso dificulta.
Izza – As agências de turismo têm hoje metas a serem alcançadas?
Maria Helena –Eu faço parte da diretoria da ABAV – Associação dos Agêntes de Viagens do Paraná. Um ponto que estamos trabalhando é que a gente deve cobrar pelo serviço. Se você entra numa agência de viagem da Alemanha e pede para trocar o voo você paga e isso é normal, porque é um serviço que está sendo prestado. Te pergunto: se você entra num local para tomar um sorvete você não paga? Portanto se a pessoa entra numa agência para trocar uma passagem, um telefone ou um computador será usado para a reserva, mas aqui no Brasil não é assim. Uma das queixas que temos também é que o passageiro vai em 5 agências e usa um pouquinho de cada uma ou bastante de uma e pouca de outra e vai comprar aonde? No picareta que faz desconto de tudo porque não precisa ter papel, nem informação, nada, ele só vende passagens. Só que o viajante compra nesse local como informações obtidas em outras agências. É o passageiro viciado. Estamos tentando segurar isso. O preço é o mesmo? Claro que não podemos esquecer que houve uma época de especulação e até é válido. Existe o desconto que a Companhia Aérea dá que é um incentivo para que a agência de viagens venda aquele produto. Se eu tenho 19% de A e 20% de B, lógico que vou me empenhar em vender B. Todos os descontos que temos passamos para o cliente.
Izza – Você é favorável à entrada de empresas estrangeiras?
Maria Helena – Sou favorável á entrada de empresas estrangeiras para os Estados Unidos para não ficarmos somente nas mãos da Varig. Assim o mercado fica livre e vai imperar a lei da oferta e da procura.
Izza – Você acha que no Brasil o turista é levado a sério?
Maria Helena –Penso que em termos de potencial turístico vamos entrar numa fase diferente. Senti isso em Natal, uma incrível boa vontade com o turista, o que não acontece no Rio de Janeiro. O Brasil está se conscientizando que o turista deve ser levado com seriedade. Isso revela o Brasil. De repente, o Brasil existe e a divulgação séria lá fora deveria ser ampliada. Não temos só mulatas e Pelé, temos coisas lindíssimas, muita beleza natural.
Izza – Há bons cursos profissionalizantes de turismo em Curitiba?
Maria Helena –Há um curso no Senac que ensina a emitir passagens, mas o importante é a noção de geografia. As vezes as próprias pessoas das empresas aéreas não sabem onde ficam os lugares. Não condeno as empresas aéreas porque devem ter muitos problemas. Imagine o que essas 300 agências daqui devem perguntar diariamente? Atendê¬las deve ser difícil. Existe a faculdade de Turismo, mas lá eles optam às vezes por outras áreas como Hotelaria. Não tem aparecido profissionais ultimamente. A ABA V tentou fazer no Rio, seminários de Geografia, de atendimento à passageiros, que pretendemos trazer para cá. A Lufthansa tem uma escola na Alemanha. Eles levam pessoas daqui, é importantíssimo. Duas funcionárias minhas já fizeram. A Varig já está com um departamento próprio para viagens de incentivo.
Izza – O que é exatamente viagem de incentivo?
Maria Helena – É uma viagem planejada para premiação de uma empresa. Se um funcionário ganha um prêmio em dinheiro, ele sempre gasta com alguma coisa que pretendia comprar e passa. Se você faz uma premiação de uma viagem para ele e a esposa, marcando a empresa, ele jamais esquecerá. Nesta viagem ele e a esposa encontrarão por exemplo, no navio, seus nomes e o nome da empresa. Sempre haverá algo mais, personalizado. É um incentivo em termos de vendas. Acho que aqui temos condições de mostrar que podemos fazer. O Bamerindus levou um grupo para São Paulo. A Phillip agora fretou um navio a nível Brasil e está indo para a Copa levando convidados aqui de Curitiba. O convite veio em vídeo mostrando a viagem maravilhosa que será feita. Isso a gente pode fazer menor, até ir para Antonina, porque não? Este projeto está começando aqui.
Izza – O que você diria para finalizarmos, para quem pretende abrir uma agência?
Maria Helena – Começar com profissionais da área, com conhecimentos e seriedade. Sempre digo que vamos vender serviços temos que ter serviços para vender porque a passagem é a mesma, o preços é o mesmo. O bom atendimento é o principal.