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“O amor às palavras” reflete Helena kolody

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Curitiba, 2 de dezembro de 1989

 

HELENA KOLODY; começou a escrever muito jovem, aos treze anos de idade, seu primeiro poema ”A Lágrima” foi mostrada aos leitores da Revista “O Garoto”, em 1927. Helena conta hoje com 16 livros publicados. Nesta conversa, ela nos conta a sua trajetória, o caminho que percorreu até chegar a se realizar como grande poetiza que é. Esta é HELENA.

 

lzza – Como é essa vida ele escritora famosa e querida? 

Helena – Famosa não. Eu fico feliz porque quero bem as pessoas e sinto que é recíproco, isto é que é importante. O que a gente escreve não é aquilo que sonhamos. Eu mesma, às vezes, pego o meu livro e pergunto: por que escrevi isso? O que a gente sonha, às vezes, é muito maior e as palavras não conseguem expressar exatamente aquilo que queremos exprimir.

Izza – Quando e tomo foi que você sentiu vontade de começar a escrever?

Helena – O que caracteriza o escritor é o amor às palavras e eu, desde pequena, sentia isso. Eu gostava de ler; desde criança era o meu divertimento preferido. Aquelas estórias alimentavam a minha imaginação. Bem, além de gostar de ler eu adorava escrever, mas eu tinha um problema: sou canhota e forçava escrever com a mão direita, e, consequentemente, às vezes a letra saía mal feita. No Colégio, as notas até baixavam por isso. Infelizmente, o que escrevi naquela época de criança, eu depois destruí. Somente na escola normal comecei a fazer poesia e, a primeira que fiz, foi metrificada. Acho que de tanto ler e copiar versos que eu gostava, de declamar em voz alta, eu eduquei os meus ouvidos. Por isso, para mim, a métrica e a rima não eram difíceis. Uma amiga minha, lva Mendes do Nascimento, me presenteou com um Tratado de Versificação para que eu aprimorasse o meu trabalho. Quando vi o quanto ainda teria a aprender, contar e melhorar as rimas, me apavorei e fiquei algum tempo sem escrever. Mas depois, veio “aquela” inspiração e comecei novamente, orientada pelo Sr. Francisco Leite.

lzza – Nesta época o seu trabalho já era divulgado?

Helena – Quem divulgava muito os meus versos era a Ilnah Pacheco Secundino – a primeira poetisa modernista do Paraná – e também o Sr. Rodrigo Junior, o “Príncipe dos Poetas”, que prestigiava muito os jovens. Ele sempre me enviava uma Revista de Paranaguá chamada “Marinha” que divulgava a poesia por todos os Estados do Sul. Vinham também os jornais: “O Dia”, “Gazeta” e o “Diário da Tarde”. Na época, só existiam estes e prestigiavam os poetas com uma coluna de poesia. Depois que me formei, como ainda não tinha livro publicado, trabalhei um ano em Rio Negro e depois fui para a escola normal de Ponta Grossa. Eu jovem, com alunos jovens, tímida, tinha vergonha de escrever. Eu dirigia naquela época uma página literária mas escrevia com pseudônimo Sulamita, Bianca, etc. Foi válido porque exercitei bastante.

lzza – Qual foi o próximo passo?

Helena – Em 1937 eu vim para.Curitiba e comecei a trabalhar no Instituto de Educação. A vergonha de escrever persistia e eu já contava com um caderno de poemas pronto para publicar. Aí pensei em fazer uma homenagem para o meu pai (que em 1941 faria 60 anos) publicando um livro. Como todo pai coruja, ele tinha orgulho da filha. Ele trabalhava no interior, e só vinha finais de semana. Aí pensei: como vou chegar a imprimir um livro? Me disseram que na própria Escola Técnica isto seria possível e eu pagaria somente o papel. Na escola havia um mestre de artes gráficas, que se chamava Olavo Medeiros. Ele era um grande amigo e me orientou. Ele disse: “a senhora compra o papel, vai no Tejaner e diz que é para a Escola Técnica. Peça papel pergaminhado de 40 gramas sem marca d água”. Então, eu fui aprendendo tudo isso e acompanhando o nascimento de meu livro; Comprei o material e me recordo que, naquele tempo, paguei duzentos mil réis. Quando finalmente o livro ia para o prelo, meu pai faleceu. Ele nunca soube que cu estava lhe preparando esta surpresa. Fiquei muito triste, desanimada mas minhas amigas me incentivaram a fazer uma homenagem póstuma. Por isso, no meu primeiro livro está escrito: “Sobre o teu túmulo paira a coroa de flores com que sonhei adornar os teus cabelos brancos”. O livro ficou pronto e me abriu novas oportunidades.

lzza – Qual seria esta oportunidade?  

Helena – Eu trabalhava no Instituto de Educação e havia pego mais aulas. O Inspetor Federal era o Padre Camargo e eu fui falar com ele porque apesar de trabalhar bastante, estava precisando de mais atividade. Ele me disse: “Eu sei que você acabou de publicar um livro. Por que você não faz um curso para Inspetora Federal? O livro entraria como título”. Ele tinha uma alma generosa, apesar de muito severo; eu aceitei a ideia, estudei como louca e passei. Hoje sou Inspetora Federal.

lzza – Você chegou a participar de concursos?

Helena – Claro! participei de um concurso para livros publicados em 41, da Sociedade de Homens de Letras do Brasil, no Rio de Janeiro. Inscrevi o livro, era o Prêmio Ana César. Tirei o segundo lugar do Brasil inteiro.

lzza – Quantos livros foram publicados até hoje?

Helena – Ao todo tenho quinze livros publicados, mas só dez títulos novos. Fora isso, tenho coletâneas, etc. “Interior”, “Música Submersa”, “Sombra no Rio”, “Vida Breve”, “Era Espacial”, “Trilha Sonora”, “Tempo”, “Infinito Presente”, “Sempre Palavras”, “Poesia Mínima”.

lzza – Qual é a emoção que você sente ao escrever uma poesia?

Helena – Eu fico extremamente alegre, quase em estado de embriagues! A poesia não tem hora; surge de repente, então começo a sonhar a palavra e tenho que estar só porque senão aquilo foge, vai embora. Tenho que escrever e, assim como a palavra vem, eu passo para o papel. É um estado de inspiração.

lzza – O que você pensa da vida?

Helena – Sou católica mas tenho um espírito ecumênico. Não discuto sobre religião. Acho, lzza, que Deus é uma luz lá em cima e que vamos caminhando cada um, pelo caminho que foi traçado. O essencial é termos uma crença e eu tenho muita pena de quem não acredita em nada. Assim, a vida não tem sentido.

lzza – Como nasceu o concurso de poesias Helena Kolody?

Helena – Eu estava numa reunião intelectual quando encontrei o Secretário da Cultura, Dr. René Dotti. Em conversa, perguntou-me se eu permitiria que o concurso de poesias tivesse o meu nome. Fiquei comovida e me senti muito honrada. Inclusive, quem trata do concurso, a Regina Benitez, foi uma das brilhantes alunas que tive. Isso foi uma prova de carinho muito grande. Acho também a iniciativa extraordinária, porque é um incentivo aos artistas paranaenses. Esses trinta que foram selecionados agora são relativamente jovens e têm recebido elogios desde o Norte do Brasil, porque o concurso foi divulgado por toda a parte; é a divulgação do Paraná no Brasil. A principal razão dos concursos é fazer com que o Paraná seja reconhecido. É muito difícil publicar um livro e quase todos que foram classificados têm livros prontos. O concurso abre portas porque, atualmente, a maioria não poderia publicar em virtude do alto custo e os editores selecionam as pessoas mais ou menos famosas; para eles também está difícil porque hoje, entre o feijão e o livro, as pessoas compram o feijão e muitos que poderiam comprar, às vezes nem estão ligados nisso. Para mim, um livro é como um tesouro porque ele está agora na livraria e de repente pode não estar mais.

Izza – Você acha que o poeta é devidamente reconhecido no Brasil?

Helena – Não é! O brasileiro é poeta por excelência. Acho válido todas as pessoas escreverem, inclusive aquele que se julga “fraco” porque é uma experiência formidável! Não sei porque (talvez porque cultuem uma fuga maior num romance ou outra coisa) a poesia não é muito lida aqui no Brasil. Ela é sempre mais produzida, mas é um paradoxo. Há muito mais poetas do que contistas ou romancistas. Só neste concurso 570 concorreram.

Izza – A poesia pode ser encarada como um meio de vida?

Helena – Acho que não. Pelo menos aqui no Brasil, não conheço ninguém que viva somente de poesia. Sou professora, e sei que se tivesse tencionado viver somente de poesia, não teria conseguido sobreviver.

Izza – Como você conseguiu imprimir 15 livros?

Helena – De quatro anos para cá tenho editor, mas os outros livros tirei sozinha, pagando a edição. “Paisagem Interior”, “Música Submersa” e “Sombra no Rio”, tirei pela Escola Técnica que hoje é o CEFET. Comprei o papei e os alunos aprenderam a fazer artes gráficas imprimindo o meu livro e saiu muito bem feito, porque era nota para eles. Em 1962 os meus alunos me ofereceram aqui, no Instituto de Educação, um livro porque pensavam que eu não queria escrever mais: “Obras Completas”, com uma linda dedicatória. Mas eu tinha mais um livro para publicar:
“Vida Breve”, “Trilha Sonora”, “Era Espacial” e “Tempo” e tirei o” Infinito Presente” pela Universidade Federal. Na época, contei com uma pessoa que tinha uma pequena oficina; ele fez um livro muito bem elaborado. Sempre achei que se Deus me deu essa possibilidade eu teria que aproveitá-la. Em 77, gastei todas as minhas economias para tirar “Correnteza” (foi caríssima). Depois, apareceu Roberto Gomes que começou a editar os meus livros seguintes.

lzza – Você acha que sua poesia amadureceu com o tempo?

Helena – Quando a gente é jovem, somos trágicos; às vezes, um probleminha parece ser tão grande. À medida que a gente envelhece vamos valorizando todas as horas e toda a alegria que recebemos, é uma flor que nasceu em nosso jardim, inesperadamente. Sei que hoje a minha poesia é muito mais bonita do que antigamente.

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