Curitiba, 23 de dezembro de 1989
CRISTIANE MOCELLIN DE ALMEIDA; ela, que é um charme, destaca-se no mercado financeiro. Formada em Administração de Empresas, morou algum tempo fora do Brasil (na Suíça) onde cursou literatura, inglês e francês. A frente da Fortuna Corretora, Cristiane é apaixonada pelo que faz! Esta é Cristiane, Sra. do empresário Ricardo Beltrão de Almeida.
lzza – Difícil o dia-a-dia da mulher executiva?
Cristiane – Não é fácil! A mulher que trabalha fora deve saber conciliar tudo: filhos, marido, a parte social, os amigos, etc. Acho que deve haver o maior empenho de nossa parte para podermos cumprir as obrigações e compromissos, bem como participarmos de atividades políticas e filantrópicas. Todas são importantes. Para tentar suprir todas as necessidades é necessário acordar cedo, ter muita disposição e um bom estado físico. Para tanto, conto sempre com o apoio de meu marido que me dá muita força cm tudo o que faço; há uma relação de respeito mútuo, onde um sabe que pode contar com o outro.
lzza – Por que você optou por esse tipo de atividade?
Cristiane – Eu sentia necessidade de administrar meu próprio negócio mas não tinha conhecimento: tinha vontade de investir, mas não sabia como. Então, o Jayme Canet, o Alberto Dalcanale e o Fernando Peixoto abriram a Corretora Araucária. Senti vontade de trabalhar lá para aprender e recebi um convite para participar e conhecer o trabalho. Realmente, foram eles que me introduziram neste meio. Comecei a trabalhar e fui gostando; fiz um curso de Agente Autônoma que me deu o poder de administrar a carteira de outras pessoas através de várias corretoras. Em seguida, meu sogro Cecílio Almeida e o Henrique Almeida compraram uma Distribuidora de Valores e eu comecei a trabalhar com eles. Parei de trabalhar para ter o meu filho, fiquei um ano afastada do Mercado e cheguei à conclusão que, simplesmente, sou apaixonada pelo Mercado, que é disso que eu gosto e que é isso que eu tenho que fazer na vida. Quando a gente sente alegria ao acordar pela manhã para trabalhar, não é trabalho e sim um prazer.
lzza – O que é essencial para desenvolver esse tipo de trabalho?
Cristiane – Bem, atualmente a situação está bem difícil porque há muita instabilidade e, neste campo, os resultados são imediatos. As atitudes que você toma resultam no momento seguinte. Para lidarmos com esse tipo de atividade, temos que ter a cabeça fria, muita sensibilidade e rapidez.
lzza – Como você consegue manter o ritmo?
Cristiane – Me habituei a ele. No começo me envolvi e fiquei um pouco agitada, mas logo consegui administrar esse ritmo enlouquecido do Mercado (que é apaixonante). Aplicamos dinheiro, fazemos administração de carteiras, câmbio de exportação e operamos na Bolsa de Valores do Paraná (diretamente) e nas outras Bolsas através de outras Corretoras do Rio, São.Paulo e Belo Horizonte. O meu trabalho é ótimo porque me dá a possibilidade de poder atender também aos meus compromissos pessoais. Começo a trabalhar às 9:30 horas e saio geralmente às 17:00 horas porque os Bancos fecham às 16:00 horas e as operações com ouro encerram 15 minutos para as 17:00 horas. Assim, posso passear com meu filho, atender a casa, etc.
lzza – Se você fosse investir agora, qual seria sua opção?
Cristiane – Uma carteira nunca deve ter somente um tipo de investimento e um mínimo de operações com ouro sempre é recomendável. Ações, cm qualquer tempo e alguma aplicação no ovcr.
lzza – Você não acha que esse juro elevado é ilusório uma vez que a inflação está altíssima?
Cristiane – O ovcr deve ser usado e visto como uma defesa para o seu dinheiro, para você manter o poder aquisitivo. Ninguém pode aplicar no over pensando cm ganhar. Geralmente, as pessoas jurídicas estão voltadas à produção e o seu dinheiro aplicado no ovcr é a sobra de caixa, o giro diário.
lzza – E o especulador? Qual seria o seu papel?
Cristiane – Seu papel é vital para que exista o Mercado. Temos que saber diferenciar o especulador do manipulador. Para existir o mercado, é necessário que alguém ache o negócio viável e que alguém ache que não; que um ache que vai subir e outro que vai cair.
lzza – Como você analisa a expressão: “jogar com a sorte”?
Cristiane – Bem, sorte existe para todos. Eu não diria sorte, diria “feeling” para poder aproveitar os momentos que nos dão chances para jogarmos com fundamento, com base; com uma macrovisão das coisas, temos condições para interpretar o momento e visualizar as tendências.
lzza – Aqui em Curitiba, neste campo, poucas mulheres atuam. Você sentiu alguma discriminação pelo fato de ser mulher?
Cristiane – Às vezes, sinto que as pessoas ficam um pouco surpresas mas não senti discriminação. É uma questão de como você se sente e se impõe; eu faço isso com uma naturalidade incrível e acho que a postura profissional é igual do homem e da mulher. Penso até que ela tem um “feeling” maior pelo fato de ter uma intuição mais desenvolvida, aquele instinto de preservação próprio da mulher para esse tipo de coisas. Existem muitas mulheres trabalhando em mesas de ações e nas operadoras; é um campo que exige muito da mulher e, talvez por isso elas não se envolvam muito com esse tipo de trabalho. Veja bem que, por menor que seja o problema que elas tenham em casa, o mercado está correndo, a bolsa está aí (não para nunca) e o processo é dinâmico. O importante é, dentro disso tudo, não esquecer do nosso “eu interior”, o lado espiritual. Não podemos perder a alegria de viver, espontaneidade e espiritualidade. Às vezes, dar um tempo e parar um pouco é recomendável.
lzza – Você acha que nós necessitamos de uma grande mudança?
Cristiane – Acho que a mudança é esperada e tem que acontecer mas não de forma radical. Sou totalmente favorável à iniciativa privada, um direito constitucional que tem que ser defendido com unhas e dentes é a única forma de conseguirmos ir em frente, pois acho que está provada a ineficiência da máquina governamental. Por outro lado, sou a favor do pensamento liberal mas vejo que as diferenças sociais são tão grandes que nós precisamos de um estado forte, presente, provendo as necessidades básicas da população: previdência social, escola, educação, transporte coletivo. O Estado tem que ser forte nestas áreas, mas deixar as outras áreas, onde ele não é imprescindível, para a iniciativa privada. O Governo seja qual for terá que mudar e mediar as pressões e os interesses dos grupos organizados da sociedade civil. A diferença social brasileira é desconexa com o futuro que o Brasil pretende atingir e este Brasil, grande e forte, não pode ter esse lado de miséria; o primeiro passo para chegarmos lá é nos concentrarmos nesse ponto.
lzza – Você acha que essa seria uma medida a longo prazo?
Cristiane – Eu não acredito que seja. Sei que vai exigir um sacrifício de toda a população, inclusive dos próprios empresários que vão ter que se conscientizar da necessidade de diminuir o seu lucro, repassando uma cota para a classe menos favorecida. Sei que há um espécie de jogo de cintura, mas essa naturalidade na maneira de tratar a questão não pode acontecer. A partir do momento que se possa confiar em alguém que tenha diretrizes definidas, cada um tem que se sacrificar um pouco pensando no futuro – é a única forma!
lzza – Você participa de algum movimento feminino?
Cristiane – Participo do Conselho Permanente da Mulher Executiva, da Associação Comercial do Paraná e faço parte do Conselho da Associação das Mulheres de Negócios e Profissionais do Paraná. Acho fantástico. Sinto-me na obrigação de participar, tentar fazer alguma coisa, atuar, pois penso que desta maneira a gente consegue alcançar as metas. Os empresários e empresárias precisam se unir e lutar pelo mesmo objetivo. Os resultados têm sido grandes. As mulheres têm muito mais “garra” do que os homens; só que elas ainda têm que provar alguma coisa e eles não têm que provar mais nada. As mulheres quando assumem a responsabilidade do cumprimento de alguma tarefa, dão o devido retorno. Sou muito perfeccionista. Recentemente passei a fazer parte da Diretoria do Sindicato dos Corretores e Distribuidoras de Valores e também da Suplência do Conselho da Bolsa.
lzza – Para finalizarmos quais seriam seus planos para um futuro a curto prazo?
Cristiane – Não faço muitos planos. Procuro resolver tudo à medida que aparece. Não planejando, evito possíveis frustrações porque as coisas, geralmente, são diferentes do que imaginamos.