Curitiba, 29 de Julho de 1990
SOLANGE HASSELMANN BIBAS; Ela adora teatro, muscais, por isso é roteirista. Com vários cursos de especialização que enriquecem o seu currículo, ela cita entre eles o de “Direção e Roteiro de Teatro” feito em Milão com o mestre Agnello De Vicenzzi onde recebeu o 2º prêmio. Esta é Solange, sra. José Oscar Bibbas.
JOGO RÁPIDO
*** Elegância. Sobriedade, estilo de vida.
***Filhos. Os meus, magníficos.
***Trabalho. Gratificante. Uma porta para a abertura da mente.
*** Personalidade. Alguns têm, outros não.
*** Amizades. Se não fossem os amigos, a vida seria insípida em todos os sentidos.
*** Sociedade. Você tem que saber sobreviver nela.
***Cidade. Curitiba. Adoro viver aqui.
*** Hobby. Tai-chi-chuan.
*** Moda. A brasileira. É linda e descontraída.
Izza – Qual é a tua atividade atual?
Solange – Na realidade eu sou roteirista de teatro. Neste esquema estão também incluídos os musicais, que são o meu forte.
Izza – Para quem são produzidos estes musicais?
Solange – Para Academias de Dança. Claro que para estar apta a desempenhar este trabalho, fiz alguns cursos. Os figurinos, passei a fazer de dois anos para cá. Não os executo, só desenho.
Izza – Como você inicia este trabalho?
Solange – Recebo uma estória para roteirizar para o Teatro ou para um musical. Recebendo ou não um argumento, eu o desenvolvo conforme o desejo da Academia. Inicialmente eu escrevo o argumento e o separo em cenas. No tocante ao cenário, converso com o cenógrafo, faço o mise-en-scéne todo, que seria quase um trabalho de auxílio à direção de Teatro. Marco os pontos de luz, que posteriormente serão discutidos com o técnico de iluminação. O passo seguinte é o figurino.
Izza – Trabalhar principalmente com crianças pequenas é complicado?
Solange – Veja bem, como em Musical e Academias, trabalha-se realmente mais com crianças pequenas e como elas têm certa dificuldade em falar no palco porque não são atores nem atrizes-, é necessário fazer um roteiro sonoro que vai para a sonoplastia. Dentro dos musicais que eu escrevo você não vai ouvir nada que não seja gravado. O Diretor de Teatro realmente tem uma base do que vai acontecer no espetáculo, dentro de uma ordem, falas, temas musicais, espaços para os efeitos especiais. E, depois, eu gosto muito de crianças, elas me divertem e é fácil criar para elas, que no palco brilham mais. Tudo o que você investe em uma criança, surte efeito. Eu parto do seguinte princípio: o importante é um bom figurino e uma boa estória.
lzza – Curitiba representa um bom campo de trabalho para você?
Solange – É bom, mas trabalho muito fora de Curitiba também.
Izza – O início de sua carreira foi difícil?
Solange – Quando eu terminei de fazer o curso com o mestre Agnello De Vicenzzi, em Milão, de Direção e Roteiro de Teatro, voltei para o Brasil trazendo uma bagagem ótima, e rapidamente fui indicada para duas Academias de São Paulo e há quatro anos trabalho para eles. Em determinado momento, o Constantino Viaro me deu um grande apoio me indicando para o Essis Jazz, que estava estreando no Teatro Guaíra. Em seguida, fiz um trabalho para Porto Alegre. Agora vou fazer para Londrina. Se você se torna conhecida e as pessoas vêem seu trabalho, as coisas começam a acontecer naturalmente.
Izza – Como é feito o contrato fora de Curitiba?
Solange – As pessoas vêm, conversamos, fazemos o contrato. Colocamos em linhas gerais o que deve ser o espetáculo. Neste contrato consta sempre uma passagem de ida e volta para o local, para que eu possa ver o que ainda é necessário quando o espetáculo estiver quase pronto.
Izza – Como você estando distante, esclarece possíveis dúvidas?
Solange – O roteiro é mandado pronto, contendo todos os detalhes. Se houver alguma dúvida, eles me ligam e logo elas se dissipam. A estória tem que partir dos recursos que a Academia dispõe.
Izza – As academias em geral, produzem habitualmente estes espetáculos?
Solange – Elas fazem dois musicais por ano. Como o processo é bem trabalhoso, eu não assumo mais do que cinco Academias e isso me toma o tempo todo. E, além disso, presto assessoria para outros espetáculos como este do Ultrabo, que vai acontecer brevemente.
Izza – O que você tem criado em matéria e roteiros?
Solange – Eu estou fazendo agora outro tipo de decoupagem mais moderna e dinâmica, que se-adapta mais ao estilo brasileiro. O sistema brasileiro é diferente.
Izza – Qual foi o seu primeiro roteiro?
Solange – O primeiro foi com o Marcel Andrade “Dançar é Dançar”, em São Paulo. Em 87, fiz a “Branca de Neve”. Em 88, fiz roteiro e figurino do “Senhor do Tempo” (também para eles) e “Mosaicos” para a Escola de Dança c Artes Cênicas de Porto Alegre. Em 89, uma “História Natal” para Marcel Andrade, a “Branca de Neve” pra o Atelier de Dança, de Londrina. “A Volta do Gato de Botas” para o Marcel. “Collors Dance”, para a Essis Jazz (daqui de Curitiba) e “O Mundo Mágico da Dança” para este grupo de Porto Alegre. Este ano eu estou fazendo “Sapatinhos Vermelhos”, para a Dança e Companhia de São Paulo. “Fantasy”, para Marcel Andrade, “Consciência da Neve” (Londrina) e a “Força do Hábito”, para Essis (de Curitiba).
lzza – Como você se mantém atualizada?
Solange – Quando vou a Nova Iorque procuro assistir a muitos espetáculos e como minha filha Alessandra de 17 anos, dança, é interessante para ela também.
lzza – De que maneira você presta assessoria a um espetáculo?
Solange – Eles me fornecem o material e neste caso do espetáculo do Ultrabo, como são adornos, eu tenho que criar a parte de baixo de acordo com os adereços que serão usados em cima. Aí eu trabalho ao contrário, ou seja, em vez de criar um figurino e depois os adereços, como eles já existem, crio somente o figurino.
lzza – Você promove seu nome profissionalmente?
Solange – Não sou tímida, mas acho que existem méritos que eu tenho que ganhar por aquilo que faço. Sei que aqui não divulgo muito o meu trabalho que, de tão intenso às vezes passa despercebido.
lzza – Como você faz para programar bem as suas atividades diárias?
Solange – Pela manhã eu sempre fico em casa atendendo a parte doméstica, pois neste período meus filhos estão no colégio. À tarde eles têm atividades extra-classe e eu vou para o escritório. Normalmente às 18 horas eu chego em casa e nos encontramos todos.
lzza – Você tem planos de ampliar seus negócios?
Solange – Por enquanto faço tudo sozinha. Assumo somente cinco Academias por ano, porque gosto de fazer tudo nos mínimos detalhes. Como tenho trabalhado mais fora do que aqui, posso continuar como estou. Quando o meu maior volume de trabalho for local, consequentemente haverá maior envolvimento, daí precisarei de alguém para me assessorar.
lzza – O fato de sempre trabalhar foi positivo em sua vida?
Solange – A primeira vez que eu vi um espetáculo meu sendo produzido me emocionei muito na estréia. Quando ouvi o primeiro som, a primeira frase gravada escrita por mim, chorei muito. Ver alguém interpretar o que você escreveu é incrível e uma emoção indescritível. Minha emoção foi tão grande que saí da platéia e fui aos bastidores ver o que estava acontecendo. Por isso não sento mais na platéia em dia de estréia. Outra lembrança maravilhosa que tenho foi no ano passado, por ocasião do espetáculo do Essis Jazz. No segundo dia me chamaram ao palco e me homenagearam com flores. Foi lindo! Estes foram os dois fatos que, em termos profissionais, me marcaram bastante.
lzza – Você gosta de vida social?
Solange – Aqui em Curitiba a gente conhece todo mundo. Nasci e me criei aqui. Aprecio a noite e vivo a noite. Gosto de reuniões, amigos, de ir ao Clube nos finais de semana.