Curitiba, 8 de Julho de 1990
LEDA DE AZEVEDO PEREIRA DE LEÃO; sempre admirada por sua elegância, finesse e simpatia, foi presidente do Clube da Lady, que marcou época em Curitiba. Dirigiu a Casa da Esperança, entre outras atividades. Leda nos conta nesta conversa como é a sua vida, sobre os momentos que passou e o que pretende.
Izza – A Sra. foi presidente do Clube da Lady, que marcou época, o que era exatamente este clube?
Leda – Quando ele foi fundado em Curitiba, nada mais era do que comércio – a Revista Lady – e para você fazer parte teria que ser assinante. Quando eu assumi a presidência, reuni um grupo de amigas que participavam da Diretoria daqui comigo e propus que fizéssemos do Clube da Lady um órgão filantrópico. Assim foi. Fui a São Paulo, estive com a direção da Revista, expus a minha ideia e eles não se opuseram à minha proposta.
Izza – Como era caracterizada esta finalidade filantrópica?
Leda – Assistíamos a 27 Instituições do Estado, e depois fui procurada por algumas moças paraplégicas que não tinham família e nem onde morar. Elas queriam que eu fundasse uma casa que as abrigasse. Na época, eu estava de viagem marcada para a Europa e no momento não pude decidir, mas prometi que na minha volta eu me posicionaria sobre o assunto. Durante a viagem pensei muito e logo que cheguei, a primeira coisa que fiz foi procurá¬las, aí nasceu a Casa da Esperança. Eram moças que precisavam de cirurgias, de cuidados especiais. Tínhamos uma casa boa, mas a capacidade era para somente 9 moças. Recuperamos 19 que hoje vivem por si, algumas são casadas; inclusive, eu poderia escrever um livro sobre a Casa da Esperança. Com isso achei que me realizei e também minhas amigas colaboravam muito.
Izza – Como era mantida a Casa da Esperança?
Leda – Com o Baile do Clube da Lady e com o show da Rhodia, eram as duas grandes promoções que aconteciam anualmente e mais os lanches mensais. Conseguimos com isso dar estudo, carinho, amor, as principais coisas na minha opinião, e elas tinham lá um verdadeiro lar. Realmente, esta casa nos dava bastante trabalho, porque as moças tinham grandes problemas. Uma delas chegou a fazer 7 cirurgias. Quando já estavam recuperadas, arranjávamos emprego para elas. Isto fez muito bem para a vida pessoal da gente, porque vemos a vida de forma diferente. Os problemas pequenos passam a não ser mais problemas, damos valor e nos sentimos felizes em poder fazer alguma coisa gratificante que tenha o retorno esperado.
Izza – A Sra. pôde contar com a ajuda das pessoas?
Leda – Fui feliz porque tive muita colaboração; os médicos operavam gratuitamente, o Hospital também colaborava. Tudo era feito com a maior boa vontade. O paranaense ajuda muito e eu sempre recebi muito mais do que esperava. Em todas as campanhas que fiz, obtive excelentes resultados. Inclusive, quando posteriormente me propuseram que eu tomasse conta da Casa do Paraplégico, pensei bem porque na época não contávamos com o apoio do Governo, apenas com nosso trabalho sem verba estadual, etc. Se aceitássemos, o governo daria’uma verba de Cr$ 1.000,00 por mês. A verba era pouca porque às vezes somente um aparelho custava Cr$ 1.000.000,00. Por isso resolvemos continuar como estávamos, por nossa conta.
Izza – Conte-nos um caso marcante dentro do seu trabalho.
Leda – Havia uma moça que tinha vindo da APR. Usava aparelho nas pernas, colete e muletas. Realmente era um problema difícil mas conseguimos que ela chegasse até a Faculdade. O mérito deste trabalho era também de meu marido Roberto, porque o meu amor pelo trabalho sempre foi por ele complementado com um forte apoio. Diariamente às 19:00 horas eu a levava para Faculdade e Roberto ia buscá-la às 10:00 horas, independente de reuniões de negócios ou jantares, etc. Nos dias de chuva ele a carregava no colo. Por isso digo que o merecimento foi também dele, que era extraordinário. Me recordo que uma grande amiga minha, emocionada, se predispôs a me ajudar, dividindo comigo a tarefa de levar a moça à Faculdade. Depois de alguns dias ela desistiu, continuando a dar apoio no que fosse necessário realmente aquela era uma hora difícil, porque o marido chegava em casa, ela teria que estar para jantar. Mas a Neli continuou a cursar a Faculdade, formou-se, e hoje trabalha por sua conta própria.
Izza – Quantos anos existiu a Casa da Esperança?
Leda – Durante 9 anos. Conseguimos recuperar as 19 moças e acho que a missão foi cumprida. A casa funcionava somente com doações. Uma governanta tomava conta das moças e eu como presidente, me achava na obrigação de atender a todas as necessidades. Quando resolvemos acabar com a casa, só uma delas não tinha concluído os estudos, então eu a trouxe para minha casa durante um ano. Ela viveu aqui e depois foi morar com uma amiga. Isso foi muito gratificante. Aprendi a ver o mundo do outro.
Izza – Todos se lembram com carinho dos bailes do Clube da Lady que tanto sucesso fizeram em Curitiba. Por que não existem mais?
Leda- Era a única festa no Palácio Iguaçu e aconteceu há 10 anos, até que o Governador Pedro Parigot de Souza assumiu e achou que o Palácio não poderia mais ser cedido para o baile tradicional. Com isso tivemos que encerrar porque não tínhamos outro local tão bonito quanto aquele. Era justamente lá, por ser um local diferente. Até hoje aqueles bailes são comentados e muita gente me pergunta porque eles não existem mais. Era gostoso, pomposo e principalmente agradável por ser um ambiente pequeno, era uma família só. Todos se conheciam, eram amigos e até os rapazes daquela época se referem de maneira especial ao fato.
Izza – Na época dos bailes do Clube da Lady, qual foi o fato mais interessante e curioso que aconteceu?
Leda – Me lembro que o baile estava marcado para determinado dia, mas infelizmente faleceu uma pessoa importantíssima do governo. À tarde a agitação foi total. O salão já estava decorado, a música já estava aqui em Curitiba, o Buffet do Paulo Mischur também já estava pronto. As debutantes estavam ansiosas pelo seu grande dia e o baile teve que ser transferido. Todos cooperaram conosco. Felizmente os músicos se predispuseram a voltar no outro final de semana. O Buffet não causou problemas e a decoração da Flor de Liz foi paga pelo atual Governador Paulo Pimentel que, simpaticamente, nos auxiliou. O curioso foi que dentro de toda esta movimentação, o caso foi resolvido, o baile transferido e foi melhor do que esperávamos.
lzza – E do colunismo social, a Sra. gosta?
Leda – A sociedade hoje é diferente da sociedade de antigamente. Antes a sociedade era composta de famílias, de raízes, de tradição. A sociedade de hoje é composta por estas pessoas e pelas que estão despontando pela sua arte cultural, profissional, etc. Eu, pessoalmente recebia destaque mas achava errado quando era destacada por coisas que eu não fazia. Não acho que seja uma falha dos jornalistas mas, às vezes eles são informados inadequadamente. Uma ocasião saiu que eu era uma exímia violinista, coisa que nunca fui, pois nunca peguei num violino.
lzza – Considerada sempre uma mulher elegante, como a Sra. mantém a imagem?
Leda – Não sou vaidosa, já pratiquei esportes, mas hoje só jogo golfe. Até no tocante a cosméticos sou meio desligada, uso o mesmo creme natural há muitos anos.
lzza – A Sra. apóia os movimentos feministas?
Leda – Acho excelente porque a mulher tem muita capacidade e não deve se igualar aos homens. Não que ela seja mais inteligente do que eles, mas tem uma visão maior; por isso acho sensacional a projeção que a mulher vem conquistando. Ela nunca poderia se igualar aos homens porque eles têm determinadas obrigações que as mulheres não têm. Por exemplo, quando os dois trabalham não se pode comparar, porque são maneiras diferentes e preocupações diferentes. O homem tem suas obrigações com sua esposa e filhos, a mulher também tem suas obrigações com o lar, tomo esposa, mãe, e dona de casa e esta parte nunca deve ser deixada de lado e, quando ela é realmente capaz, sabe conciliar tudo muito bem. A mulher tem um valor extraordinário.
Izza – E a Leda avó?
Leda – Adoro os meus 16 netos. Eles sempre estão aqui em casa, brincando e alegrando a minha vida. Fazem festinhas, dançam. Tenho enorme prazer em tê-los com seus amiguinhos dentro de minha casa.
lzza – O que a Sra. considera gratificante?
Leda – Para mim a coisa mais gratificante é ter um lar como eu tenho e onde até hoje vivi com meu marido, muito feliz. Só tenho recordações maravilhosas. Meus filhos Odete Cristina, Alba Regina, Heloisa Helena, Leda Maria, Roberto Décio e netos, relembram com muito carinho os exemplos, o amor e a atenção que tiveram do pai. É muito bom ter uma família da qual possa se dizer que é realmente uma família.
lzza – Quais seriam seus planos?
Leda – Não tenho planos porque sinceramente, eu tive tanto e tenho tudo em minha vida. Me realizei dentro de meu casamento, me sinto realizada com meus filhos que amo, com os meus netos que adoro, tenho pais maravilhosos e um único irmão de quem gosto muito. Então, já sou uma pessoa realizada. Lógico que sinto muita falta de meu marido de quem tenho 38 anos de lembranças maravilhosas. Penso em ver meus netos com um futuro brilhante, cultural, uma vida estável, continuando a educação que eles tiveram de berço, mas não sei se isso realmente é fazer planos. Acho que agora, com 59 anos, estou colhendo os frutos dos planos que fiz durante a minha vida.