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“Técnica, paixão e emoção” fala Silvia Folloni

Postado em

Curitiba, 13 de Maio de 1990

 

Agitada e ao mesmo tempo extremamente sensível, ela traz consigo uma bagagem enorme de estudo e de vivência, e transmite isso tudo em seu trabalho figurativo. Nesta conversa ela nos conta, com sinceridade, o seu dia-a-dia e a sua técnica. Esta é Silvia, Sra. Alberto Folloni Neto.

 

Izza – Como é o temperamento da Silvia mulher?

Silvia – Sou dinâmica, gosto de diversificar as minhas atividades. Nunca fui acomodada, acho que isso é próprio do meu signo de virgem. Adoro a vida social, badalar, festas, exposições, etc., mas também curto a solidão de vez em quando. Ficar sozinha, estudar, Ier. O que não gosto é de ficar parada, sentir que estou perdendo tempo. Consigo fazer tudo e ainda, no meio de minhas atividades, estudar francês à noite, três vezes por semana. A minha inspiração está mais voltada para o lado intelectual.

Izza – Você ficou algum tempo no anonimato, por quê?

Silvia – Desapareci por algum tempo do campo das artes, mas não parei. Acho que estava me preparando para recomeçar com força total. Depois, meus filhos eram pequenos e daí fica tudo mais complicado. Agora consigo conciliar tudo, a vida de casa com o meu trabalho. Confesso que sou meio desligada como dona de casa e se fosse diferente não conseguiria fazer nada. Tenho três filhos que agora já estão grandes: André, Camila e Fenando, quinze, doze e nove anos, e apesar do atelier ser em casa, consigo trabalhar perfeitamente, porque todos entendem e vivem no sistema americano onde cada um se vira no que precisar , independentes. Levantam de manhã, fazem o seu próprio café, saem para a aula, na volta cuidam de suas atividades, arrumam, estudam, etc., acho isso sensacional porque gera responsabilidade. Como gosto de trabalhar à noite, às vezes durmo até tarde e só os vejo na hora do almoço. Meu marido também é artista e arquiteto e tendo a arte como metiê, nos entendemos perfeitamente. Se fosse diferente eu não conseguiria trabalhar, pois é humanamente impossível ser artista, cuidar da casa e ainda resolver todos os problemas do cotidiano. Nem o lado profissional é sacrificado porque as coisas devem caminhar, evoluir.

Izza – O que a levou a recomeçar a pintar?

Silvia – Foi um “clic”, Vi que o tempo estava passando e fiquei com garra para fazer e mostrar o que posso fazer. Além disso incentivo das pessoas é muito importante.

Izza – Qual foi o motivo de sua ausência por determinado tempo?

Silvia – Eu parei, não de trabalhar, mas de participar. Achei que nesta fase eu teria que ficar mais encubada e, depois, me faltava tempo para estudar mais. Acho que não era hora
de mostrar. Quando pensei em recomeçar tive muita força do Luis Fenando Sade que foi lá em casa e me incentivou a marcar uma exposição; ele confiou, gostou e agora estou na ativa, tenho quadros na Acaiaca, no interior do Paraná e São Paulo.

lzza – Qual seria a finalidade de tuas constantes viagens ao exterior?

Silvia – Não são tão frequentes assim. Estive viajando no final do ano passado. fui para a Europa onde visitei algumas galerias, museus, participei de exposições e conversei com pessoas ligadas à arte e à classe. Fiz boas amizades, para nós é muito importante viajar, pesquisar, pois engrandece e acrescenta. Acho que qualquer pessoa que tenha a oportunidade de sair não deve deixar de ir.
 
Izza – Em tua opinião qual é o segmento que mais cresce em Curitiba?

Silvia – A maior agitação está em tomo das artes plásticas. Sempre foi. Tivemos e temos grandes nomes pois o Paraná tem muita gente boa no ramo. O movimento anda muito forte, cada vez mais. Veja os trabalhos do Calderari, lindíssimos, do João Osório, da Violeta Franco, são artistas que se impõem. Também as galerias estão destacando o que é bom e por isso vendem bem todos os gêneros de pintura. O nível está excelente e o curitibano compra e valoriza a arte.

Izza – O caminho para a valorização do artista é difícil?

Silvia – A valorização vem com o tempo, na medida em que o artista vai fazendo sucesso junto à crítica, com a aceitação do público e a própria maturidade, principalmente na batalha pelo seu espaço. Conheço muita gente boa que nunca teve a chance porque não batalhou para que isso acontecesse.

Izza – O que você considera uma boa obra de arte?

Silvia – Considero boa quando o crítico de arte vê num quadro, numa análise fria e intelectual, somada com a emoção e beleza, o que um leigo enxerga e sente ao ver a mesma tela. E a somatória das duas coisas. Não que o crítico não sinta a mesma emoção que o leigo, mas como ele tem toda aquela bagagem, a história da arte dentro dele, instintivamente, olha um quadro e o analisa nos mínimos detalhes mais de dentro para fora do que de fora para dentro.

Izza: A crítica influi em seu trabalho?

Silvia – Creio que nada interfere tanto quanto a vontade que uma pessoa tem de realizar bem o seu trabalho. Ela pode até balançar um pouco mas, para mim, o que tem mais influência é o que ouço do público, das pessoas que estão a minha volta, mas isso não quer dizer que eu não acate e respeite a opinião do crítico, cujo papel é intelectual, falar o que pensa e divulgar ou não o trabalho. Aqui em Curitiba temos excelentes pessoas no ramo, de muito peso. Uma delas é Adalice Araújo que, inclusive, participa da Bienal, o que prova a sua competência.

Izza – Como você vê comércio/arte?

Silvia – Muitas vezes já ouvi algo engraçado. Alguns artistas dizem que pintam mas não fazem questão de vender. Aí eu pergunto: quem vê? Quem participa da tua obra? Ela fica enclausurada. Na hora em que o artista começa a comercializar, mesmo vendendo somente um quadro por mês, além de divulgar a sua obra ele está participando do comércio. Isso é um incentivo, porque muitas pessoas terão a oportunidade de ver seus trabalhos. Se o artista se recusa a vender qual seria a finalidade? Não entendo isso. Acho que desde que um quadro esteja pendurado na parede ele já está sendo comercializado. Para mim, vanguarda é tudo que está sendo pintado no momento. Hoje não é como antigamente quando existia o cubismo, e muitos outros gêneros. Nós já passamos por tudo isto, por tudo que poderíamos passar. Agora, a reciclagem é fazer o que você gosta. Existem mais novidades. Existe mercado para todo o tipo de arte, sendo bom, você tem chance, tem que confiar e ir atrás. Tudo na vida é uma batalha.

Izza – Você pinta para comercializar ou faz da pintura um hobby?

Sílvia – O meu trabalho não posso chamar de hobby. É o que eu gosto de fazer e no que me empenho por inteira. Na minha profissão, não sei se alguém conseguiria viver somente da pintura. Eu tenho vendido muito e me sinto feliz porque tenho sentido receptividade por parte das pessoas. Tento trabalhar com paixão, esta é a minha meta, não vejo somente a estética, deve haver aquele algo mais. Arte não é feita só para uma faixa, deve atingir os que entendem e s que não entendem. Claro que as maneiras de atingir são muitas, mas o importante é transmitirmos o que estamos querendo. As pessoas que não apreciam uma boa pintura, passam pela vida, simplesmente. Quem vive, vibra e participa, não passa em brancas nuvens. Se você sente é porque está viva e gosta de viver. Para mim tem que ser tudo com paixão e com emoção. Isso me motiva e me dá forças para continuar.

lzza – Você fala em paixão. Todos os dias você tem este sentimento que te impulsiona a pintar?

Sílvia – Estou ligada o tempo todo o que me inspira e me impulsiona. Sou sensível às mínimas coisas, é uma coisa que está à flor da pele. Claro que temos melhores e piores momentos. Se eu tiver algum problema ele passa rápido, não consigo ficar muito tempo mal humorada. Não acredito na inspiração sozinha, acho que ela vem com a vivência e com a prática. A base é importantíssima, a pesquisa, o estudo indispensável para a realização de um bom trabalho.

lzza – Como é o clima entre os artistas em Curitiba?

Sílvia – Como em qualquer outro local. Se respeitam mutuamente porque cada um faz o seu trabalho, Veja quantos artistas plásticos existem na atualidade. Isso prova que o curitibano valorizam muito a arte, do contrário, não haveria tantos. Você já viu quantas individuais e coletivas estão acontecendo?

Izza – O que mais te emociona?

Silvia – Conseguir pintar, por na tela o que existe dentro das pessoas, dentro do figurativo. Por exemplo, por o sentimento naquela pessoa que está sendo representada que não é simplesmente uma figura, tem carne, sangue, sentimentos e problemas. O lado psicológico e interior que seria a alma das pessoas é difícil retratar e quando consigo esta dificuldade me sinto realizada. Quando consigo harmonizar o ambiente com as figuras posso ter certeza que você não vai olhar simplesmente e achá-lo bonito e bem feito. Um bom trabalho chega a mexer com alguma coisa que você tem lá dentro, atinge as pessoas. É a emoção. 

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