Curitiba, 18 de outubro de 1987
DILMA, bacharel em letras anglo-saxônicas, professora de etiqueta social, atualmente gerencia o Museu de Energia da Copel. Ela representa o dinamismo e a constante atuação da mulher curitibana. Suave, simpática, transmite em sua simplicidade e sua forma personalíssima de ser, a segurança de quem curte o que faz. Neste bate papo Dilma define a mulher e a elegância.
IZZA – Qual é a importância da etiqueta social no dia a dia das pessoas?
DILMA – A etiqueta é de vital importância no cotidiano, seja no ambiente social, profissional ou doméstico, á através de normas e pequenos detalhes que se adquire a segurança necessária para atuar nas mais diversas ocasiões, sem problemas de ambientação. Passando do mais simples ao mais cerimonioso, ela será sempre uma pessoa naturalmente simpática, cativante e segura de si, terá aquele “it” especial ou charme inerente. Em suma, etiqueta nada mais é do que o respeito pelos direitos dos outros. Se todos mês respeitássemos o espaço do nosso semelhante, talvez o mundo se tomasse um pouco melhor.
IZZA – Você é conhecida por sua eficiência como professora de etiqueta social, há quanto tempo você leciona?
DILMA – Comecei a conviver com as normas de etiqueta desde criança. Embora morando no interior do Estado, estudei em colégios de freiras vicentinas, de origem francesa, onde se preocupavam muito com o assunto. Entre outras coisas, o aprendizado que tínhamos a respeito do tema era encarado com a maior rigidez e seriedade. Citando como exemplo a hora das refeições, as mesmas freiras ficavam
fiscalizando as mesas e se alguma criança por ventura, usasse os talheres de maneira incorreta, levava castigo do tipo: escrever cem vezes “não devo…”, assim jamais esqueceria. Na fase da adolescência, fiz vários cursos correlatos para meu uso pessoal. Porém, jamais pensei em lecionar. Isso aconteceu há 14 anos atrás, quando na empresa em que trabalho, surgiu o convite para eu fazer parte do corpo de instrutores no curso de treinamento profissional para secretárias. Aceitei o desafio, e, de repente, deu certo.
IZZA – Qual é a sua opinião sobre a real elegância?
DILMA – Não é o alto poder aquisitivo que define uma pessoa na arte de ser elegante e sim a aristocracia de suas maneiras. É o seu modo de ser como um todo, a sua forma de tratar, de receber que concedem uma indiscutível característica de classe, beleza, encanto e distinção. Não se pode confundir uma pessoa bem vestida apenas, com uma pessoa elegante. Claro que se devem unir as duas coisas. Esclarecendo melhor: de nada adianta uma aparência produzidíssima se ela não for elegante nas atitudes. Por outro lado, ela pode ser simples e discreta no vestir, porém ter o porte de uma princesa. Para mim elegância é algo transcendental que vem lá de dentro, quase espiritual. Insere-se também na pessoa atualizada, culta, dinâmica e sensível ao que ocorre a sua volta, no país e no mundo, é participativa, não
fica apenas passivamente assistindo.
IZZA – O que é necessário para que uma pessoa se considere bem vestida?
DILMA – Num rápido lance de autocrítica, ela deverá saber analisar o seu tipo físico, perfil psicológico, a moda do momento, a ocasião e os pontos de equilíbrio. Seguindo esses detalhes, ela poderá ficar segura de si porque, em termos de vestuário, estará perfeita.
IZZA – Agora vamos falar sobre esse outro lado profissional.
DILMA – Trabalho na Copei há muitos anos, e há 3 gerencio o Museu da Energia, órgão pertencente à própria empresa. Apesar de muito novo, já foi considerado o “Museu Modelo do Paraná”. Um país sem memória é um país sem futuro, por isso, o campo museológico e historiográfico, além de ser uma constante, é um trabalho interessantíssimo. Ao mesmo tempo em que se preserva a memória, deve-se partir da premissa de que se está colaborando para o enriquecimento da cultura de um povo. Ê louvável a colaboração que a empesa (vide COPEL) vem oferecendo aos paranaenses neste sentido.
IZZA – O que o Museu da Energia está agilizando no momento?
DILMA – Dando prosseguimento às atividades normais, o Museu está agora na fase final de implantação da primeira etapa de um projeto de dinamização educativa de seu acervo. Tomando então o rumo da ciência, inaugura ainda este mês uma série de kits experimentais que mostrarão ao público conceitos ligados à eletricidade, tais como: tensão, corrente, energia, potência e similares, além de atuar na produção de electromagnetismo. A sala didática terá a instalação de um gerador acionado a um pedal e a uma carga resistiva, no qual o visitante poderá experimentar o que é tensão, o que é corrente, e o quanto é necessário em energia humana para manter uma determinada carga, como lâmpadas acesas. Em termos práticos, será possível entender melhor pelo que se paga na fatura no final do mês.
Haverá outras experiências como: elevadores de tensão, registradoras gráficas, amperímetros, voltâmetros, var metros, com seus mecanismos internos à mostra e funcionando ao sabor do visitante. A proposta é de que ele opere literalmente, ponha a mão e faça funcionar os equipamentos a sua disposição para assim compreender melhor a importância de cada maquinário. No futuro haverá uma réplica, em miniatura, de hidrelétrica em acrílico, demonstrando como funciona uma usina, disponível para manuseio dos visitantes. Até experiências clássicas, como freio eletro-dinâmico, a força contra-eletromotriz, estarão abertas a estudantes e curiosos. Dentro de sua filosofia de trabalho, o Museu da Energia Copei acredita que é através da prática que se adquire o aprendizado. Assim, a sala didática tem como objetivo maior, tomar o Museu acessível a todos, fazendo com que a experiência de visitá-lo seja marcante, tanto para o leigo como para o técnico.
IZZA – E quanto a parte historiográfica?
DILMA – Pretendemos concluir um trabalho dentro de dois anos sobre a eletricidade no Paraná, desde 1892, que foi o seu início até a época atual. Além dos ciclos da história em si, abordaremos o desenvolvimento econômico antes e depois da energia elétrica. Serão inseridos também estudos sociológicos e antropológicos onde se poderá mostrar como era o “modus vivendi” das pessoas na era dos lampreões e a sua transformação em função da eletricidade.
IZZA – Como se situa a mulher profissional em seu campo de trabalho?
DILMA – Acho que, independente de ser homem ou mulher, o profissional é e deve ser medido pela sua competência. Sinto que as descriminações já estão deixando de existir. Não é o machismo ou o feminismo embandeirado que irão barrar ou abrir as portas para o desenvolvimento de uma carreira. Isso é individual. As chances estão abertas para todos igualmente e a inteligência é inerente ao ser humano. Só basta a conscientização de que é preciso lutar com perseverança para direcionar positivamente a sua meta.
IZZA – Você é uma pessoa metódica?
DILMA – Acho que esta pergunta tem dois enfoques. Se for no sentido de organização, a minha resposta é sim. Tenho uma tendência ao perfeccionismo, pois procuro ser organizada tanto no plano doméstico como no profissional. Gosto de planejar minha vida de tal forma que não venha me preocupar depois. Não falho nos compromissos assumidos e, quanto à adaptabilidade, sou maleável a qualquer
situação.
IZZA – Tendo você tantas atividades, como consegue estar sempre elegante?
DILMA – Essa pergunta me deixa um pouco encabulada, mas vamos lá. Acho que toda a pessoa tem a sua dose de vaidade e gosta de se apresentar sempre bem, seja em casa ou na sociedade. É uma questão de respeito para consigo mesma e as demais. Quanto ao tempo para isso… não vejo nenhum problema.
IZZA – Qual é a sua filosofia de vida?
DILMA – Encaro a vida com tranquilidade, mesmo nas situações mais preocupantes. Aprecio a lealdade e a honestidade; abomino a mentira, a dissimulação e a mediocridade. Gosto das pessoas que têm a naturalidade e a simplicidade de uma criança, isto é, transparentes. Quanto ao bom astral, acho que devemos sempre visualizar uma rosa no meio dos abrolhos. Com suavidade e positivismo, encontramos com certeza a solução para sermos vencedores na batalha do dia a dia.