Curitiba, 18 de setembro de 1988
BETTY MARTINELLI, carismática, simples e espontânea, nos conta esta semana o que pensa, como atua socialmente e como é seu dia-a-dia. Com duas filhas, Bettina e Fernanda, que afirma serem bom astral e companheiras, leva a vida com alegria e otimismo. Esta é Betty, Sra. Mário Martinelli.
IZZA – Você, sendo uma mulher dinâmica, conte-nos o que faz?
BETTY – Há seis anos tenho uma confecção de roupas femininas, práticas de moletom, meia malha etc., eu e minha mãe. Sou eu quem bola os modelos e ela me ajuda a cuidar, o que me deixa muito tranquila. A confecção é pequena e não pretendo aumentá-la no momento. Adoro o meu trabalho e fico muito contento quando estou em algum lugar ou no Clube e vejo as gatinhas usando a minha roupa. Tenho orgulho quando apreciam aquilo que idealizei. Faço uma linha bem descontraída, nada chiquérrimo, e para idealizar os modelos, pesquiso, vejo revistas estrangeiras, crio em cima de alguma coisa e tenho tido sucesso. Além disso, faço a modelagem, as vendas e também as entregas, pagamentos etc. Acho uma delícia quando chego em alguma loja e repetem o pedido. E super gratificante.
IZZA – Você acha que na atual fase que passamos, é fácil negociar?
BETTY – Não posso reclamar porque para mim está étimo justamente porque a minha roupa atinge uma faixa de poder aquisitivo que ainda pode comprar a toda hora. Vendo sempre por que o preço é bom, bem acessível. O nome que dei é “Smak” e comecei sem esperar, acho que foi o momento. Me lembro que eu sé fazia tênis, Ballet ginástica, enfim dondocava por aí. Eu sempre idealizava a minha roupa, fazia, cortava e a minha mãe costurava e todas as minhas amigas achavam lindos os meus modelos, e me deram a ideia da confecção. Comprei máquinas e fomos ampliando, e aí está.
Me areja a cabeça, porque trabalho com o que gosto. É compensador de dois lados: a parte da realização pessoal, profissional e a parte financeira. A gente tem que estar sempre atualizada, e depois a nossa moda não perde em nada para outros centros. Veja o Paraná, que antigamente não tinha confecções, está trabalhando superbem. Agora que estamos na primavera, eles já estão lançando inverno. O que acontecia somente no Rio e em São Paulo está acontecendo agora no Paraná. Não digo sé a moda paranaense, mas a moda no Brasil todo. Temos roupas lindíssimas e estilistas maravilhosos. Não há mais razão de dizermos que vamos comprar roupa fora. Por exemplo as roupas Gregõrio Faganello são divinas. Bem, as tendências da moda, eu como idealizo, me baseio na européia porque eles estão sempre uma estação na frente em tendências, cores, modelos, estrutura. Seguindo as tendências, o segundo passo é adaptá-la para nós aqui.
IZZA – E a curitibana, se veste bem?
BETTY – Está começando a vestir-se melhor agora, porque acho que ela às vezes pecava pelo excesso. Jóias e detalhes enfeitam quando são usados na medida certa com moderação, porque a elegância é um todo, a maneira de viver de agir. A elegante perfeita sempre está bem e não abusa da moda. Eu pessoalmente admiro mais as coisas clássicas. Por exemplo, a roupa curta é muito engraçadinha, mas não é elegante. Acho lindo o comprimento do Chanel para baixo, é mais classudo, e além disso a mulher tem que saber o que lhe cai melhor, conforme seu tipo físico.
IZZA – Você acha imprescindível a mulher trabalhar?
BETTY – Claro, penso que toda a mulher deveria ter uma ocupação porque fica com a cabeça melhor, participa de outro mundo, não sé daquela vidinha sempre igual com os problemas normais. Abre a cabeça, dá visão, e faz com que justamente, ela tenha uma atividade fora do lar, se tome mais respeitada pelo homem. E além disso, eu pessoalmente, acho a mulher que trabalha, “grandiosa” porque demonstra capacidade. Além de cuidar de sua casa e de seus filhos ela ainda tem mais uma ocupação. Creio que neste caso ela deve ser mais valorizada do que o homem, pois o homem trabalha, e geralmente não tem essa participação no cotidiano nos problemas do lar, uma vez que está mais fora. E, ainda tem mais, a mulher além de tudo isso tem que cuidar de si mesma, estar bem arrumada.
O acúmulo de funções é dificílimo. Casa, trabalho e obrigações sociais, isso não é dondoquice porque o relacionamento e as amizades são muito importantes. Quando alguém nos convida, devemos comparecer porque atualmente não é fácil, devido à situação atual, fazermos festas, e, se somos convidados é porque realmente fazem questão da nossa presença e o não comparecimento desaponta. O curitibano sabe receber bem, mas em algumas festas, acho bom quando os homens ficam para um lado e as mulheres para outro. Não tem nada a ver, uma vez que as reuniões em que todos se misturam é sempre mais animada. São raras as festas em que ficam todos juntos.
IZZA – Sendo você jovem, como se sente e como é seu relacionamento com as filhas?
BETTY – Tenho duas filhas, Bettina com 15 anos e Fernanda com cinco. É uma delícia ter uma filha moça. Conversamos bastante, somos superamigas brigamos às vezes. Sou muito extrovertida e ela também, e estou curtindo bastante esta fase. A Fernanda é muito levada, simpática e engraçada. No geral, meu relacionamento com as duas é excelente. Acho que hoje em dia é uma arte educar bem os filhos, porque a gente não sabe nunca se está errando ou acertando. Determinadas coisas que a gente não gostaria que fizessem, é normal. A nossa época era diferente, os valores mudaram. O choque de gerações é uma coisa muito séria, se bem que agora está mais ameno. Por exemplo, de minha mãe para a Bettina, é terrível muito grande, mas da minha geração para a dela, não me causa impacto. Lógico que vivi de uma forma diferente, mas essa geração de agora, vive e aproveita muito mais, porque encara tudo com mais naturalidade, sem tantos tabus. Hoje, o diálogo é aberto, conversamos sobre tudo. Também com o Mario ela se relaciona muito bem.
IZZA – E a Política?
BETTY – Mal. Estamos sem líderes. Quanto ao Paraná, precisamos elitizar mais. Felizmente este ano temos alguns candidatos com condições que estão se propondo a cumprir objetivos e, infelizmente alguns que como sempre não têm base e nem sabem porque estão indo. Quanto a mim, jamais me candidataria. Acho que iria me absorver demais.
IZZA – Dá para notar que você é uma pessoa extremamente mística, não é?
BETTY – Eu adoro o misticismo. Acho fantástico. Por exemplo, se a pessoa está deprimida e fala com alguém que entenda do assunto, pode levantar o astral ter forças para prosseguir. Gosto de horóscopo, cabala, búzios, etc. O preconceito quanto a estas coisas acabou. Hoje é normal, porque é difícil a pessoa que ainda não fez cabala ou mapa astral, não é?
IZZA – E a Constituinte?
BETTY – Achei um absurdo alguns pontos. Veja bem, eu que tenho confecção, estou sentindo alguns problemas. Essa lei que ampara as mulheres grávidas está fazendo com que ela sé se prejudique. Eu quando tive filhos, com uma semana já estava ótima, e fiz cesária. Porque elas têm que ficar quatro meses? Outro ponto incrível é o da censura, totalmente liberada, se uma criança de cinco anos liga a TV às 10 horas da noite, o que será que ela poderá ver? A criança tem que aprender, mas não seria a forma ou o momento exato para algumas coisas. Também o voto para 16 anos. Te pergunto, será que nesta idade eles já sabem escolher? Se podem votar, podem também tirar a carteira de habilitação e acho que não há nesta época maturidade para isso. O nosso jovem brasileiro não é politizado, aliás o povo brasileiro não é, infelizmente.
IZZA – Betti você é muito badalada não?
BETTY – Nunca fiz força para isso, acontece naturalmente. Participo de festas e reuniões, porque adoro, faz parte do meu temperamento, e o fato de aparecer em colunas sociais, é apenas uma consequência natural. Sobre o Colunismo Social, acho interessante, não sé no sentido de fotos de pessoas, festas etc, mas creio que o colunismo também tem uma missão importante que é ajudar as pessoas que precisam. Vejo às vezes, apelos para campanhas, pontos positivos porque um-‘ coluna social tem muita força é muito lida, todos gostam, e esta força deve ser aproveitada para coisas boas e é isso que está acontecendo. A parte de cultura também, informações, dicas. Ela traz de tudo um pouco. Está bem diversificada, interessante, abrangente. Está acontecendo, porque as pessoas também estão mais atuantes e consequentemente têm mais a dizer. Isso influenciou, para que as colunas se tornassem mais interessantes.
IZZA – E de filantropia você participa?
BETTY – Participo, porque acho que ninguém vive num mar de rosas, mas temos que ajudar as pessoas que estão precisando. Acho superimportante e, quando me pedem alguma coisa, levo com seriedade. O mais bonito é fazer no anonimato, traz mais satisfação pessoal de podermos auxiliar quem necessita. Ajudar todos é impossível, mas o pouco às vezes é muito.
IZZA – Agora falemos de você. O que faz nas horas de fazer?
BETTY – Adoro jogar tranca e, principalmente, com pessoas mais velhas, porque além de terem muito a ensinar, uma bagagem muito grande de vida, e as que jogam têm uma cabeça ótimas, são mais alegres, participantes. Não vivo para a vida social, mas curto. Domingo fico em casa sem me arrumar, bem a vontade sem nada para fazer, isso é para mim uma delícia. Socialmente sou extrovertida, muito alegre mas também explosiva e preocupada com as coisas que me rodeiam. Emotiva ao extremo, choro e me comovo facilmente. Me preocupo com a opinião dos outros porque acho que sempre estão buscando uma coisinha para uma tesourada. Acho que quem diz que não se importa está mentindo. Sou autêntica, mas com ponderação. A livre palavra às vezes agride ou é mal interpretada. É uma questão de personalidade e espontaneidade, mas geralmente mal-encarada. Por isso não podemos mostrar realmente o que somos ou o que realmente pensamos. Odeio hipocrisia e pessoas muito bajulatórias. É isso aí.