Curitiba, 7 de agosto de 1988
SONIA MADEIRA LACERDA, é admiradora da arte, área na qual começou a atuar descompromissadamente. É também psicóloga há 26 anos. Com vários cursos
de aperfeiçoamento em Madrid e no Rio de Janeiro, trabalha ativamente nesse campo e afirma que ‘‘qualquer ocupação é digna e importante’ Esta é Sonia que, nesta conversa, nos conta um pouco de sua estória.
IZZA – Você, admiradora da arte, conhecida por isso, lida com esculturas de jardins. Aqui em Curitiba, esse campo tem muita concorrência, ou você foi a pioneira?
SONIA – Existem outras galerias que vendem esculturas, ocasionalmente duas grandes. Nós começamos este trabalho numa área de dois mil metros quadrados e acredito que seja um pioneirismo aqui no Paraná. São esculturas grandes, e claro que expostas em uma área condizente, são mais valorizadas. No dia 21 de maio fizemos a inauguração deste espaço. Regina Rodrigues e eu. Tivemos absoluto sucesso, e já estamos com individuais marcadas para setembro e outubro, Elmo Damo e Atfi Vivem. As pessoas têm gostado muito porque á uma oportunidade de ver um conjunto grande, a escultura integrada a um jardim. A Regina é também paisagista, fez cursos na França e tem uma visão maravilhosa das coisas. Este fato facilita muito o nosso trabalho.
IZZA – Como é a procura destas esculturas?
SONIA – Eu já trabalhava há quatro anos com telas e esculturas pois tenho uma clientela especial que gosta muito de arte e que estava ansiando, digamos, por esse tipo de trabalho, para a complementação da pinacoteca. Então iniciei praticamente há dois anos com escultores de grande gabarito, porque aqui no Paraná temos excelentes. Já comercializamos em São Paulo, Rio, etc.
IZZA – Você acha que o curitibano é muito voltado a arte, dá importância a quadros, esculturas? Ou há uma determinada faixa que adquire mais?
SONIA – Esta questão de faixa, não existe. O que acontece, são poucas obras de arte disponíveis para qualquer classe social. Estou sentindo que atualmente no Brasil inteiro, está havendo um grande movimento voltado para as esculturas e acredito que tendo, qualquer pessoa desfruta. Não podemos deixar de observar que Curitiba é uma cidade universitária. Eu cresci ouvindo isso, e ligo sempre cultura com arte.
IZZA – Como á sentir este gosto pela arte?
SONIA – Tudo a gente vai criando, sentindo. Inclusive tenho grupos de clientes, um tipo de sociedade, onde discorremos sobre tudo: estilos, interpretações, etc. Ê incrível como as obras são vistas de diferentes pontos e interpretadas diferentemente. Cada um vê de uma determinada forma. É uma linguagem, uma curtição. E as obras apresentam vários ângulos, pois entra também no contexto, como nos relacionamentos com a obra. Para mim, este campo é muito gratificante talvez também pelo fato de eu ser psicológica. Adoro esta parte, quando vejo o que as pessoas estão sentindo. Percebo as emoções do artista plástico e, ao mesmo tempo, sinto estas emoções passadas para o cliente, é um trabalho realmente completo e maravilhoso.
IZZA – Tendo você outra atividade, como, quando e por que você começou com a arte?
SONIA – Comecei há cinco anos atrás, meio descompromissadamente. Desde criança, sempre tive contato com ela, estudei em Madri, um dos centros maiores de arte. Morei lá dois anos, fazendo curso de Psicologia e paralelamente aproveitei para fazer também jornalismo. Peguei programações relativas a Picasso, Velasques, e uma série de pintores. Realmente na época, a minha maior preocupação era de me preparar bem para a Psicologia e não pensei que trabalharia com arte também algum dia, mas isto me deu uma boa base e um excelente preparo. Bem, como eu estava falando, comecei por acaso e há cinco anos atrás eu estava comprando alguns quadros (que sempre eram elogiados e admirados pelas minhas amigas conhecidas e parentes), e de repente, comecei a ser intermediária de uma forma descontraída, e acabei me vendo dentro do contexto. Recebi então solicitações de outros artistas e as coisas foram fluindo. Quando entro dentro de alguma coisa, faço bem feito ou não faço, porque sou extremamente perfeccionista.
IZZA – Você acha que o fato de ter cursado em Madri ajudou na decisão de novos caminhos?
SONIA – Claro, foi o meu reencontro com aquilo que eu sempre gostei El Grecco, Goya, Velasques. Visitei inúmeros museus, galerias e quando me propus a trabalhar nisto, foi conscientemente. Acho que a sabedoria da vida que eu sempre pedi, eu consegui, que é ter fé e vontade de trabalhar.
IZZA – A concorrência é grande?
SONIA – Acho que não existe concorrência porque cada galeria tem o seu produto, seu tipo de trabalho e seus clientes. Este trabalho é de interação às vezes me sinto num círculo. De repente eu tinha um tipo, algumas obras de arte para comercializar e vejo outro tipo de clientela e essa própria clientela me solicitou outras. O que eu proponho é o que eles querem. Não é uma galeria aberta e sim mais restrita, com atendimento personalizado e eu nem tenho condições de fazer um trabalho muito grande pelo meu outro lado de psicóloga, ao qual me dedico. Não tenho tempo integral por isso trabalho com poucos artistas e poucos clientes. Sempre procuro o melhor para eles.
IZZA – Conte-nos agora sobre os teus planos de ampliação.
SONIA – Já tenho uma galeria, mas atualmente muito cheia de coisas. Pretendo organizar e diminuir meu acervo que está grande. Pretendo que a minha galeria tenha um aspecto de casa, porque o cliente vê a obra inserida numa decoração, e isso é diferente e agradável. Vou reformular o jardim para melhor mostrar as esculturas. Será uma coisa completa e pretendo inaugurar na entrada da primavera. Quero fazer alguma coisa inédita no setor, principalmente em relação a quadros.
IZZA – Conte-nos sobre a Sonia psicóloga.
SONIA – Iniciei nos anos 60, no Rio de Janeiro e em Madri meus estudos de aperfeiçoamento, porque não havia em Curitiba curso de Psicologia, nem em temos de faculdade, nem especializações. Quando voltei, comecei a trabalhar na Escola Mercedes Stresser onde dava atendimento a crianças excepcionais. Também no Hospital Nossa Senhora da Glória e em clínica particular. Todos estes anos
fiz cursos e estágios de formação. Atualmente trabalho somente em clínica.
IZZA – E a Sonia mulher?
SONIA – Uma pessoa que acumula funções múltiplas como dona de casa, mãe ajudada por gente carinhosa que auxilia nas tarefas do dia a dia, e por máquinas maravilhosas, pois é só apertar os botões e já temos grande parte do serviço resolvida Meu filho é sensacional e me acompanha em papos agradáveis, pois curto muito o adolescente e ele me gratifica muito. Como profissional me realizo totalmente porque faço o que gosta
IZZA – Trabalho é essencial na vida de uma mulher? A família perde quando a mulher vai desenvolver outras atividades?
SONIA – Qualquer ocupação é digna, é importante. A mulher que trabalha fora de casa e a mulher que trabalha no lar, têm igualmente o seu valor. O trabalho é que dignifica o ser humano. Quanto a família perder com isto, é muito pessoal depende da relação homem e mulher, tipo de trabalho do casal e filhos. Acho que a criança necessita muito da mãe no período inicial da vida, é importantíssima. Quando a mãe não pode dar essa assistência, é válido que uma pessoa assuma o papel dela. Na história vemos casos de grandes homens. Churchill, por exemplo), que via sua mãe raras vezes e era cuidado por uma governanta. Não podemos deixar de assinalar, que havia uma estrutura sólida familiar, onde todos os membros tinham
segurança e a transmitiam.
Voltando ao trabalho da mulher, acho que se o homem trabalha fora de casa o dia todo, a mulher pode ter a sua atividade também fora de casa. O importante é que ela não supere o marido e esteja sempre ao seu lado quando ele precisar. Inclusive atualmente existem homens que esperam a colaboração da companheira, financeira e intelectualmente. A atuação feminina fora de casa permite à mulher uma reciclagem, um equilíbrio e compreensão maior de vida. Conseqüentemente ela, tendo adquirido isto, terá condições de oferecer ao companheiro maior apoio e companheirismo. A arte é saber conciliar tudo isto.
IZZA – E para finalizarmos?
SONIA – Me sinto gratificada porque tive a graça de ter muita fé desde pequena. Quando eu rezava, pedia sempre a sabedoria que nada mais é do que ter muita fé, gosto e prazer pelo trabalho. Esta bandeira ninguém pode baixar do mastro.