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Vinícius Coelho

“Que feliz geração – a minha.”, escreve Vinícius Coelho

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Vinícius Coelho

 

Curitiba, 24 de março de 1991.

  

Que feliz geração – a minha.

Que viu a Curitiba de ontem, com seus 20 mil habitantes e vive a Curitiba de hoje, transformada em metrópole de bom gosto e de nível de vida acima da média. Mas não espalhem.

Curitiba deveria ficar do jeito que está. Apenas com os maravilhosos bondes que trafegam silenciosamente em Bruxelas, em Zurich, em Viena ou na Basiléia, sendo colocados para trafegar nas vias expressas, levando o povo para o trabalho ou pra casa, com funcionalidade e não atrapalhando quem roda pela cidade.

Nasci ali na Rua Ermelino de Leão, quase esquina com a Saldanha Marinho.

Lamento por minha rua, umas das poucas que pioraram. Era uma subida bonita, com gente ficando sentada no meio fio a esperar que o Manoel Ribas subisse a rampa, confortavelmente instalado no PG-1, PG-2 ou PG-3. Duas Mercury e uma Lincoln, igualzinha a do Collor. Na última quadra só mansões, que até hoje existem, mas foram transformadas em escritórios que o progresso exigiu. Mas, enfeiou.

Viva a Curitiba do Bonde do Juvevê, abertinho, que eu pegava na Praça Tiradentes e descia na fábrica de Pianos Essenfelder, já morando ao lado do Estádio Belfort Duarte, onde queria chegar até às 17 horas poder entrar no campo e ficar atrás do gol pegando bola para o goleiro ou fazendo algum nas quadras de tênis, também pegando bola mas aí, defendendo o Capilé no armazém do “seu” Nonato, na Rua Mauá. Vivi a Curitiba do Colégio Belmiro César, que já desapareceu, mas que nunca deveria ter sumido. Tocado por uma família que tinha no patriarca, o professor Luis César, um exemplo de inteligência e profundo fervor cívico. Que beleza de Colégio!

Fui vivendo Curitiba. Do Cine Avenida, que hoje a família Vieira relembrou por trazer de  volta o Palácio com o mesmo nome mas, sem a Guairacá, o que me deixou triste.

Do Cine Ópera de David Carneiro, com sua decoração que hoje lembraria um Templo Rosacruz. Do Cine Luz, onde a gente entrava com sol e saía de canoa quando chovia durante a sessão. Eu vivi a Curitiba da empadinha do Olímpio das Massas, ou do sanduíche do Pérola ali em frente a Cometa que também tinha um bauru de pernil que merecia ser comido devagar. O “pout-pourri” do Bar Paraná ou a sopa húngara nos dias frios, depois um cafezinho no Alvorada do Silseu, bem ali em frente.

Vivi Curitiba e me reciclei. Fui morar no Rio de Janeiro e quando voltei em 74, não conheci minha cidade. Aí me revelaram a mágica. Um jovem arquiteto fora nomeado prefeito e estava começando a preparar a Curitiba nova, moderna, vibrante, onde o ser humano está em primeiro lugar nas esquinas, nos parques, nas praças.

São 20 anos de Jaime Lerner, praticamente. Dele ou de suas propostas. Curitiba se reciclou. Sofreu uma intervenção que lhe reduziu os problemas e aumentou sua beleza. Curitiba hoje é uma luz iluminada pelo bom gosto que fazem nossos olhos esquecerem de piscar. Curitiba cheirosa, do Barigui ao São Lourenço, da Barreirinha ao Iguaçu. Do expresso que rasga a cidade e deixa o povo em casa, ligando-se alimentadores que facilitavam a vida de quem mora longe e é pobre. Curitiba não é uma cidade só para ricos.

É hoje uma cidade para pessoas de bom gosto, de bem com a vida, com astral pra cima e com as existências que lhe asseguram um panorama cada vez mais limpo, moderno, alegre, verde que te quero verde e branco, no Natal e no Carnaval. E, também no final dos campeonatos de futebol. No todo e sempre. Só espero que o pique do Lerner não acabe nunca. E que ele continue fazendo a minha felicidade, de poder mostrar Curitiba aos meus amigos que vêem de fora, sentido neles o desejo de ficar e a constatação do que contam sobre a cidade.

Hoje no Brasil, para morar nada se compara a você, minha Curitiba da Ermelino de Leão, ao Alto da Glória, da glória de viver com você. Já estou no ponto esperando o bonde que pode voltar com o “Rhum Creosotado”;

Veja ilustra passageiro/ O belo tipo faceiro/ que o senhor tem ao seu lado/ No entanto, acredite/ Quase morreu de bronquite/ Salvou-o, Rhum Creosotado.

  

 

VINÍCIUS COELHO (in memorian)

Jornalista

Ex-presidente da ABRAGE (Associação Brasileira de Cronistas Esportivos)

Representante da América na AIPS – Assoc. Internacional de Imprensa Esportiva com sede em Milão

Ex-Assessor de Imprensa de Ney Braga, Emílio Gomes e Jayme Canet.

Atual Assessor do Carregador da Justiça Desemb. Henrique Lenz César.

 

 

 

 

 

 

 

 

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