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Foto de Luiz Carlos Borges da Silveira para Cartas a Curitiba

“ Curitiba, Terra de todas a Gentes ” escreve Luiz Carlos Borges da Silveira

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Foto de Luiz Carlos Borges da Silveira para Iza Zilli

 

Curitiba, 17 de Julho de 2018

 

Curitiba, Terra de todas a Gentes.

Considero que conheci Curitiba quando me tornei um de seus moradores, ou adotivos como tantos. Foi no início da década de 1960, quando sai da Lapa e vim cursar Medicina na Universidade Federal do Paraná.

Evidentemente, muito diferente da cidade que é atualmente.

Lembro que para ajudar na manutenção do estudante pobre fui trabalhar no recenseamento, contratado pelo IBGE; a região para a qual me escalaram foi o Bacacheri, bairro grande em extensão, mas ainda não com a infraestrutura atual, as casas eram distantes entre si, mais de cem metros umas da outras, quase uma chácara, e as ruas com naturais deficiências.

Naquela época os bairros eram distantes do Centro e pouco povoados, não formavam aglomerados como conhecemos agora. Lembro que nos finais de semanas quando desejava visitar minha família na Lapa apelava para caronas, pois precisava economizar e, além disso, as linhas de ônibus não eram regulares. Então, eu ia lá no bairro Portão, saída em direção à minha cidade. Havia pouco comércio, mas tinha um posto de gasolina e ali era o ponto adequado para conseguir carona.

Dessa época guardo um detalhe que muitos curitibanos autóctones, ou alóctones como eu, talvez não tivessem ideia: Curitiba não era a ‘capital de fato’ do Paraná, era sim a capital de direito, oficial, política. É que não havia integração e em algumas regiões, ou por proximidade geográfica, influência da colonização ou facilidade de acesso, outros centros eram a ‘capital’. Por exemplo, Oeste e Sudoeste eram influenciados pelo Rio Grande do Sul.

Nessas regiões as emissoras mais ouvidas eram as gaúchas, jornais mais lidos eram os de Porto Alegre, assim como os esportistas torciam para times do Sul – Grêmio e Internacional. Lembro que depois de formado fui exercer Medicina em Pato Branco e, naquele tempo, não havia linha direta de ônibus para Curitiba, mas para Porto Alegre sim.

Da mesma forma, o Norte, o Nordeste e o Norte Pioneiro do Paraná eram intimamente ligados com São Paulo, não com Curitiba, cuja influência se restringia mais ao Litoral, primeiro planalto e Campos Gerais.

Mas o tempo passou e a diferença todos conhecemos.

Curitiba sempre atraiu famílias, especialmente do interior em natural êxodo, mas um fato foi decisivo: a ‘geada negra’ de julho 1975 que matou os cafezais do Norte, e mais que isso matou sonhos e projetos de empresas e famílias deixando-as sem nada. Isso acentuou o fenômeno do êxodo rural, reforçado depois pela mecanização da agricultura que reduziu a oferta de empregos, fator aliado à decadência econômica de municípios outrora pujantes, notadamente no chamado Norte Velho (ou Pioneiro). Curitiba, naturalmente, atraiu os retirantes, como no passado havia atraído inúmeras etnias que criaram uma diversidade sociocultural de positiva importância.

 A Capital sempre foi também objetivo de jovens que procuravam Curitiba para estudar, pela excelência dos cursos superiores. Depois de formados aqui se radicavam e entravam no mercado de trabalho; na sequência acabavam trazendo familiares e amigos, formando e multiplicando núcleos populacionais.  

Viva Curitiba!

Autor:

Luiz Carlos Borges da Silveira – médico. Foi ministro da Saúde no governo José Sarney, de 23 de novembro de 1987 a 15 de janeiro de 1989.

 

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