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“Com amor e fê, as dificuldades nos fortalecem” fala Mercedes Brotto

Postado em

Curitiba, 20 de Janeiro de 1991

 

DNA. MERCEDES BROTTO; Ela é simpática, doce, e tem muito o que contar. Anos de experiência, muitas alegrias e tristezas marcam o semblante dessa simpática senhora que nos dá nessa conversa uma lição de vida. Dna. Mercedes é Sra. João Brotto.

 

Izza – Dona Mercedes como vai a família Brotto?

Dna. Mercedes – Temos oito filhos, José Aramis, Antonio Arley, Wilson Luiz, João Batista, Afonso Celso, Carlos Alberto, Regina Maria e Paulo Sérgio. E acho que os criamos bem, dentro de nossos princípios e de nossas possibilidades e graças a Deus todos deram certo. Além deles temos cinco noras maravilhosas e amigas e treze netos que só nos dão alegrias.

Izza – A Sra. e o Sr. João estão completando 52 anos de casados. Como foi o início desta estória feliz?

Dna. Mercedes – João não tinha posses, trabalhava na roça. Serviu o exército e decidiu ir para São Paulo e foi a pé, trabalhando até chegar lá. Decidiu voltar e foi aí que nos conhecemos, nos apaixonamos e começamos o namoro, e decidimos casar. No início tivemos uma vida difícil, cheia de sacrifícios mas com muito amor e fé. Se me perguntassem: Mercedes, você casaria com o João agora? Eu responderia que agora não, porque já começariamos no bem bom. Claro que eu casaria novamente com ele desde que fosse para começarmos tudo nas mesmas condições como começamos porque foi aquele o melhor tempo de nossas vidas. As dificuldades nos fortaleceram e nos tornaram muito unidos e apesar de tudo nunca brigamos. Foi uma fase de lutas e sacrifícios mas que muito nos enriqueceu em termos de vivência.

Izza – A Sra. pode nos contar um pouquinho dessa luta?

Dna. Mercedes – Logo que nos casamos fomos morar em Rio Branco na casa dos pais de João, duas pessoas maravilhosas com quem muito aprendemos. Depois seguimos para Piraí do Sul, alugamos uma casinha de madeira e João comprou um caminhão de bananas. Veio a geada e queimou tudo. Às vezes não tínhamos o suficiente nem para o básico. João começou a viajar com o caminhão, vieram os filhos e eu me recordo que realmente as coisas não eram fáceis. Agora quando me lembro, acho que apesar das dificuldades foi uma época gostosa. Eu fazia tudo em casa porque era frágil só na aparência (Na época não existiam ainda tantas facilidades e eu fazia pão, doces, suspiro tudo manualmente). Até hoje quando repito estas façanhas aqui em casa se admiram, mas eu estou acostumada e acho que até as vezes é mais gostoso.

Izza – Como vocês conseguiram superar este tempo de dificuldades?

Dna. Mercedes – Com fé fomos lutando. Construímos uma casa no barranco, eu o João e meu cunhado. Com o tempo o barranco foi cortado e construímos mais uma na parte mais baixa onde fizemos um pequeno armazém. Fazíamos em casa bebidas que engarrafávamos ali mesmo e o João carregava o caminhão e viajava para vender. Voltava a tarde, ia descansar. Eu preparava as crianças para dormir e começava a lavar as garrafas com mais dois empregados (inclusive um deles trabalha conosco até hoje). Assim passávamos a noite preparando tudo para que o
 João pudesse carregar o caminhão no dia seguinte. Quando terminávamos o serviço eu dormia um pouco até que  as crianças começassem a acordar.

Izza – Qual foi o próximo passo?

Dna. Mercedes – Com todo este trabalho a nossa situação começou a clarear. Pusemos uma bomba de gasolina, o movimento aumentou, então decidimos fazer um hotelzinho e logo depois um restaurante. Compramos outro posto na entrada de Piraí e depois outro na estrada de cima. Aí já estávamos bem melhor e adquirimos uma casa maior nos morros de Castro onde fizemos outro hotel com restaurante. Na época os meninos estavam em regime de semi-internato nas Irmãs Marcelinas. O João achou que já estava na hora de virmos para Curitiba para que eles tivessem melhores condições de estudo. Resolvemos, viemos e compramos uma casa na frente, do campo do Atlético.

Izza – Aqui em Curitiba às coisas foram mais fáceis?

Dna. Mercedes – O início também não foi muito fácil. Começamos fazendo um armazém que não deu certo. Mas não desanimamos. Fizemos então um Hotel na Rua Barão do Rio Branco, o São Cristóvão, de três andares, e depois outro na Visconde de Guarapuava com a travessa da Lapa, o Hotel Santa Maria. A nossa situação econômica foi melhorando e partimos para outro Hotel desta vez na Rua Pedro Ivo, aí o João fez um estacionamento em frente a nossa casa. Os meninos foram crescendo e o meu marido que sempre teve uma visão muito grande das coisas e é muito inteligente, independente da sua simplicidade, achou que este ramo não serviria mais porque nossos filhos iriam se perder dentro dos hotéis. Aí paramos, abrimos uma loja popular e nasceu os Móveis Brotto.

Izza – No início qual era a linha que os Móveis Brotto seguia?

Dna. Mercedes – Meu marido adora lidar com gente simples, por isso vendíamos móveis simples, baratos. Conseguimos crescer e depois veio a Mobiliarum Brotto, a Dell’Arte e a Brottare Turismo integrantes do Grupo Brotto do qual João Batista é presidente.

Izza – O Grupo Brotto é estritamente familiar?

Dna. Mercedes – O grupo é dirigido pelos oito irmãos que nada fazem sem consultar um ao outro. São muito unidos, se reúnem, discutem e executam. Claro que as vezes há divergências daí brigam, choram, mas isso passa rapidamente porque são irmãos, estão construindo juntos e se amam.

Izza – Como vocês conseguem manter esta união familiar tão forte?

Dna. Mercedes – Acho que aí tem a mão de Deus primeiramente. Eles foram criados com muito amor, respeito, e dentro do que sabíamos e do que podíamos, conforme nossos princípios. Até hoje as vezes nos reunimos para o café da manhã, filhos e noras para uma bela polenta com café.

Izza – E a senhora o que gosta de fazer?

Dna. Mercedes – Gosto de cozinhar e quando estou na cozinha esqueço do mundo. Adoro as coisas da casa, arrumar, limpar, participar. Leio bastante e gosto de sair, dar uma volta às vezes na loja de Santa Felicidade. O que não aprecio é fazer visitas, ma adoro receber em casa.

Izza – Do que a senhora tem saudades?

Dna. Mercedes – Acho que antigamente, no mundo havia mais o sentido de família. Hoje uma moça casa e se separa com facilidade. Antes as coisas eram levadas mais a sério. Vejo que atualmente não existe mais muita união, respeito e amizades sinceras, tempo para cultivar a união familiar.

Izza – O que a senhora considera gratificante?

Dna. Mercedes – Ter uma família de muita fé. Filhos ótimos trabalhadores que adivinham nossos pensamentos, que nos mimam e nos cercam de atenções.

Izza – O que é importante no seu dia-a-dia?

Dna. Mercedes – Faço questão de me levantar e logo me arrumar, não ligo para as coisas sofisticadas mas gosto de estar bem comigo mesma. Se eu levantar e não estiver de acordo, os filhos já pensam que não estou bem ou que alguma coisa está acontecendo. E, se o João não gostar do que estou vestindo, troco rapidamente, pois faço questão que ele me ache bem. São 52 anos de casamento onde as briguinhas também existem, mas briga de amor não dói e logo passa. 

Izza – Com tantas experiências de vida o que à senhora diria para as pessoas que estão começando a vida agora?

Dna. Mercedes – Primeiramente que a fé é importante, independente de qualquer credo. Seja ela católica, protestante ou outra, que seja levada com delicadeza, amor, carinho e responsabilidade. Quanto a família, tratar os filhos com amor na hora certa e na hora da severidade, saber puni-los porque não é só com amor que se educa, a mão firme é imprescindível.

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