Curitiba,16 de Dezembro de 1989
SONIA ROCHA LOURES SCHLEM; Marca presença pela sua elegância. Executiva há 4 anos no comando da Boutique e Confecção Twiggy, foi homenageada recentemente como “Executiva do Ano”. Sonia, com sua competência e criatividade, veste grande parte das elegantes curitibanas. Nesta conversa, ela nos conta porque de seu sucesso. Esta é Sonia, Sra. Roberto Schlem.
lzza – Como. nasceu a Twiggy?
Sonia – Eu trabalhava com minha irmã Vânia Schrappe no escritório de decoração (era desenhista em meio período) quando uma amiga- Laura Baume – sugeriu que começássemos juntas a vender roupas. Um negócio pequeno, em casa, mas desde o início me dediquei porque senti que era o meu forte. Bem, como tinha que viajar frequentemente, tive que deixar de trabalhar com a Vânia. Mais tarde, a minha amiga desistiu e eu continuei sozinha; a clientela foi aumentando e comecei a pensar em abrir a Twiggy. Como meu marido também pretendia abrir um Vídeo Clube, começamos a procurar o local adequado. Vimos esta casa, gostamos, era acessível e partimos para a reforma. A Vânia entrou com a parte de projeto. Foi feito tudo com muito carinho e valeu a pena.
lzza – O seu trabalho não é desgastante?
Sonia – Não tanto, porque adoro. Desde pequena fui criativa. Eu sempre reformava minhas roupas, criava novos modelos. Agora aqui o pique é movimentadíssimo; faço as vitrines, atendo as clientes, crio e idealizo e às vezes visto a roupa para que a cliente veja em mim. Isso torna mais fácil a escolha. O essencial é que ela saia satisfeita, sinta-se bem na roupa que vai usar.
lzza – E a confecção?
Sonia – Há tempos eu pensava. Quem reforçou a ideia foi minha costureira que atendia em casa e indicou outra costureira. Então, montei atelier ali na rua Vicente Machado e comecei a notar que as minhas roupas vendiam muito mais do que as que eu trazia de fora. A partir daí, segui com”garra”. Continuei comprando roupa pronta, porque não conseguimos produzir tanto e reconheço que com a confecção acabei me tornando exigente, pois quem faz enxerga facilmente os erros e qualidade da roupa pronta. Vejo acabamento, preço, etc., comparo, penso antes de comprar, para trazer sempre o melhor.
lzza – Você não acha difícil conciliar o lado profissional com o familiar?
Sonia – Acho. Quando aumenta o trabalho, automaticamente o outro lado fica um pouco complicado; mas, por incrível que pareça, acho que os melhores alunos são aqueles cujos pais são ocupadíssimos. Este ano trabalhei muito e minhas filhas Alessandra e Cláudia passaram por média na escola. A mais velha ainda tem aulas de piano, inglês e jazz. A outra também, vai muito bem. Temos um relacionamento excelente e o fato de eu me dedicar ao trabalho faz com que elas se tornem mais independentes. No mais, você sabe que a mulher sempre consegue desempenhar os dois papéis com versatilidade e dá tempo para tudo. Com planejamento, vamos em frente.
Izza – Você sente que esta época incerta em que vivemos está afetando o comércio?
Sonia – Acho que todos que trabalham nisso estão sentindo o mesmo. Apesar de nossa estrutura, das clientes, etc., temos que reconhecer que as coisas já não são mais fáceis, devido às preocupações atuais. Além do mais, os juros esmo muito convidativos para quem aplica. Neste mês de dezembro, o comércio deveria estar fervendo e tudo inda está muito calmo, mas acredito que é consequência desta fase que estamos atravessando.
Izza – Você já exportou o seu produto?
Sonia – Ainda não. Por enquanto, tenho me preocupado mais com a comercialização aqui mesmo. Faço muitos desfiles e agito bastante.
lzza – O que você sentiu ao ser homenageada como “Empresária do Ano” pelo Curitiba Woman’s Club?
Sonia – Achei sensacional! Realmente, sou o tipo de pessoa que faço o que gosto, por amor. Sempre me vi como alguém que tem o dom natural de criar, de lidar com moda naturalmente. Cada um tem seu ponto fraco; para mim, o que faço é extremamente fácil porque nasci disso e apenas fui desenvolvendo nesta direção. Lógico que, ser homenageada é maravilhoso e é o reconhecimento de nosso trabalho. Se me honraram com isso é porque admiram o que faço. É um grande incentivo.
Izza -Suas filhas demonstram vontade de trabalhar com moda também?
Sonia – Acho que quando a gente se dedica e consegue construir alguma coisa, sempre pensa nos filhos; do fundo da alma brota aquela vontade de que haja uma oportunidade. A Alessandra parece não gostar muito, mas a Claudia talvez me ajude futuramente. Acho que as coisas mudam com o tempo e ainda é muito cedo para definições neste sentido.
Izza – O que você acha da moda brasileira?
Sonia – Acho linda, bárbara. Principalmente a moda mineira, excelente para a jovem senhora. De repente, um blazer com uma ponta mais comprida que a outra agrada. O clássico, com um toque moderno, é muito usável. É o gênero de roupa que eu tanho aqui na loja e que minhas clientes adoram.
Izza – Você me contou que compra no Rio e em São Paulo. Você não acha que aqui mesmo em Curitiba existem ótimas confecções?
Sonia – Aqui há muita gente boa, mas acho que algumas pessoas pecam pela falta de profissionalismo, vendendo a preço de custo para amigos, etc. Isso queima e prejudica as butiques que, logicamente, têm que ter o seu lucro.
Izza – No que você se baseia para comprar?
Sonia – Não me baseio em ninguém, apenas procuro distinguir o que é bonito do que é feio. Para comprar, visito muitas confecções e nunca fico em uma só porque uma vez pode estar bem e na outra pode estar mal. Por isso vário e, depois, só compro o que está pronto; escolho e trago sem problemas. O fundamental é o acabamento, observo muito este ponto. De repente, uma ombreira bem posta é importantíssimo.
Izza – E sobre o Natal, o que você gostaria de dizer?
Sonia – Que nesta data, de tantas mudanças e incertezas, possam os homens encontrar um momento de paz para refletir sobre o verdadeiro sentido da vida; iniciando a próxima década com uma proposta renovada de fraternidade e união. Só assim,. teremos todos um mundo melhor.
