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“A MULHER A CADA DIA VEM CONQUISTANDO NOVOS ESPAÇOS” fala Maria Inês Borges da Silveira

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Curitiba, 3 de outubro de 1987

 

MARIA INÊS PIERIN BORGES DA SILVEIRA. Mulher atual, de marcante personalidade, é casada com o deputado federal Luiz Carlos Borges da Silveira. Três filhos: Valéria, Luiz Carlos Filho e Leandro, nasceu na cidade da Lapa, Paraná. Normalista, casou-se aos 17 anos. Cursou História da Arte e Decoração, chegando a trabalhar como decoradora por algum tempo. Hoje, freqüente destaque, desempenha com brilhantismo o cargo de diretora financeira de uma empresa. Participa de eventos políticos e sociais ao lado de seu marido.

 

IZZA – Hoje, o papel da mulher na sociedade vem mudando dia a dia. Em sua opinião qual seria o verdadeiro?

MARIA INÊS – Realmente, a mulher a cada dia vem conquistando novos espaços e definindo posições na sociedade, quer como mulher que trabalha, que faz política, esportes quer simplesmente como mulher, na verdadeira essência. Somos comprovadamente capazes, queremos portanto, ser aceitas e respeitadas em qualquer situação. Hoje, por exemplo, não há mais sentido afirmarmos como antigamente, “Por de trás de um grande homem há sempre uma grande mulher*, nós não mais estamos por detrás dos homens, nossos maridos, companheiros, colegas de profissão, estamos sim, lado a lado.

IZZA – Você acredita que hoje não existem mais preconceitos em relação a mulher?

MARIA INÊS – Pelo contrário, os preconceitos ainda e infelizmente existem. Mas são frutos de idéias arraigadas de uma geração que teimosamente insiste, em não aceitar a evolução dos tempos. Os preconceitos partem hoje de gente que tem dificuldades em aceitar o novo, e que é real. Veja bem, o preconceito não faz parte apenas das idéias de pessoas mais velhas, de outra geração, mas de gente nova, que por um motivo qualquer assimilou para si idéias preconceituosas, e que não conseguindo adaptar-se à evolução dos costumes, aceita-as passivamente, sem reavaliar os verdadeiros valores viáveis para os dias de hoje. Mas com o tempo muitos destes preconceitos com certeza cairão por água abaixo.

IZZA – Como você vê a situação da mulher no mercado de trabalho?

MARIA INÉS – Aos poucos e solidamente ela vem conquistando espaço. E o que é mais importante, se fazendo respeitar não por concessões, mas por competência. As mulheres hoje são muito bem sucedidas, em áreas que até há pouco tempo eram restritas ao homem, sem contudo perderem a feminilidade e a sensibilidade. Aliás, este último fator acho que é fundamental. Logo a mulher no mercado de trabalho passará definitivamente a ser encarada e respeitada como uma profissional, independente do fato de ser mulher.

IZZA – O trabalho seria a única forma, na sua opinião, da realização da mulher?

MARIA INÊS – Não, em absoluto. Há muitas mulheres que optaram pela vida doméstica, ou pela vida esportiva, enfim qualquer outro tipo de vida que não seja ligada a uma atividade profissional de acordo com os padrões estabelecidos. Não creio que tais mulheres sejam menos felizes do que as outras porque fizeram esta opção. Uma mulher que decide conscientemente (isto é importante frisar) optar pela vida doméstica depois de ter avaliado todas as situações possíveis, jamais se sentirá frustrada. A vida doméstica requer muita ou talvez até mais habilidade que a vida profissional.

É um trabalho que desgasta, traz alguns dissabores em determinados momentos, mas que por outro lado, é gratificante. Tudo depende da maneira como esta mulher encara sua vida, sua opção. Eu, pessoalmente, durante muitos anos não trabalhei fora de casa. Casei aos 17 anos, dediquei-me apenas a minha família, meu marido, meus filhos, e me sinto plenamente realizada. Sou companheira do Luiz Carlos e de meus três filhos. Nunca estive ausente num momento em que qualquer um deles tenha precisado de mim; e por outro lado eu não me senti desamparada nos momentos em que necessitei de apoio. Hoje no entanto com os filhos crescidos, adolescentes, voltei-me a uma atividade profissional. Sou diretora financeira de uma empresa, e tenho conseguido com sucesso, ser profissional, mãe e esposa. Sem remorsos ou sentimentos de culpa, apenas tranquila.

IZZA – Você acredita em feminismo?

MARIA INÊS – Nada que se apega em extremos é bom. Nem passividade excessiva, nem radicalismos. As mulheres devem lutar por seus direitos, mas sem querer declarar uma verdadeira guerra contra os homens, veja bem, homens e mulheres não podem ser separados por um muro de conceitos, que, ao final das contas, se tomam opressores. Uma mulher pode viver em harmonia com o homem, quer no meio profissional, pessoal, social sem se desvalorizar. Há que se estabelecer um equilíbrio e, para isso, a mulher não precisa ir a extremos e nem tão pouco perder sua feminilidade.

IZZA – E sobre o fato de muitas pessoas acharem que mulher de político é “dondoca”?

MARIA INÊS – É um conceito de quem sabe muito pouco a respeito das mulheres de políticos hoje em dia. Atualmente, as mulheres acompanham seus maridos pelas viagens ao exterior, ao interior, aos palanques em campanha. Desempenham papel fundamental no serviço de atendimento às comunidades mas por outro lado, em função dos próprios cargos dos maridos, elas têm que ter uma vida
social relativa. Isto faz parte da realidade de um político.

IZZA – Você acha que a mulher deve acompanhar o marido a comícios, aos palanques?

MARIA INÊS – Ora, e porque não? Desde que ela faça isso com convicção, sem se despersonalizar. Veja bem, a mulher do político deve acima de tudo ter opinião própria e se as opiniões são harmônicas, se ela acredita naquilo que o partido de seu marido propõe, se ela partilha dos mesmos anseios, porque não ir em frente ao lado dele? Eu pessoalmente, sempre que possível, acompanho Luiz Carlos e gosto de fazer isto, porque acredito nas propostas do meu marido. Ele é um político movido por idéias, que defendem a luta por coisas que considera justas e benéficas ao povo, e enquanto isto acontecer, estarei sempre a seu lado, apoiando e ajudando a defender suas idéias.

IZZA – Você aceita todas as idéias de seu marido, não tem nenhuma opinião diferente a respeito de fatos políticos?

MARIA INÊS – O diálogo é fundamental para que haja evolução. Em alguns casos, eu e Luiz Carlos temos divergências sobre alguns assuntos ou fatos, mas isto não impede que conversemos a respeito. Sempre trocamos idéias. Ele respeita as minhas opiniões e eu as dele. Neste diálogo, a respeito de nossos pontos de vista, sempre conseguimos chegar a um consenso, sem despersonalizar nenhuma das partes. Aliás isto é fundamental em todos os aspectos. Ninguém pode aceitar idéias de ninguém através de imposições. Não se esqueça de que sou casada com um homem que crê na democracia, e nós a praticamos aqui em casa.

IZZA – Você falou há pouco que trabalha em obras sociais. Qual a sua atuação neste setor?

MARIA INÊS – Como médico meu marido sempre desempenhou trabalho importante junto à população e, como nós vivemos muitos anos no interior, a convivência numa comunidade pequena me levou a entrar com tudo na área filantrópica. Fui durante 8 anos presidente do clube de mães na cidade de Pato Branco, desempenhando o papel de orientadora desde princípios de higiene, saúde, alimentação até em assuntos mais complexos. Atualmente trabalho como voluntária na Cruz Vermelha e estou envolvida também em outras promoções e atividades filantrópicas.

IZZA – Com todas estas atividades, como você faz para desempenhar eficientemente os papéis de mãe, esposa, profissional, e estar sempre tão elegante?

MARIA INÊS – Acho que a organização é fundamental. Para facilitar eu mesma arrumo meu cabelo e tenho manicure em casa uma vez por semana. Procuro estar sempre pronta, seja para o trabalho, atender meus filhos, meu marido e eventos sociais. Não apenas no aspecto estético, mas principalmente no aspecto emocional. Me disciplinei de tal forma que hoje consigo ter sobre controle todos os fatos que estão sob minha responsabilidade e para facilitar, trabalho com agenda.

IZZA – Em relação às atividades culturais, gosta de teatro música, obras de arte?

MARIA INÊS – Apesar do tempo ser um pouco escasso, sempre que possível, gosto de prestigiar bons artistas, quer no teatro, música ou na área de pintura, esculturas. Aprecio e acho válidos todos os movimentos culturais.

IZZA – Qual seria sua maior preocupação quanto a educação de seus filhos?

MARIA INÊS – Eu tenho a opinião de que nossos filhos devem ser educados e preparados para enfrentar o mundo. Eu, como qualquer outra mãe gostaria que meus filhos vivessem num eterno mar de rosas. Mas sei que nem sempre a vida vai ser fácil para eles. Por isso faço questão de educar de forma, a dar liberdade ao mesmo tempo orientá-los a seguir o melhor caminho; a confiarem neles mesmos, e a serem prudentes e conscientes em relação as suas atitudes; a tomarem decisões lúcidas e responsáveis. E acima de tudo, a acreditarem que a honestidade e a verdade são chaves que abrem muitas portas nas nossas vidas. Por outro lado, com os dias de hoje me preocupa uma série de coisas, como a violência urbana, as drogas; coisas para as quais tento dentro do possível alertá-los e protegê-los sem no entanto esconder a realidade.

IZZA – Você citou fatos como a violência urbana e as drogas. Na atual situação do país, afinal, fatos como estes podem ser encarados como consequência de uma vida difícil para o povo?

MARIA INÊS – Realmente, a situação vivida hoje pelo país é uma das mais difíceis. Os salários estão defasados, ao mesmo tempo em que a cada dia fica mais caro viver. O salário mínimo mal dá para sustentar uma pessoa, quanto mais, famílias inteiras que vivem com esta renda mínima. A situação realmente não está fácil para ninguém. Tenho esperanças como qualquer outro brasileiro que a situação mude o quanto antes, para que haja mais igualdade social, para que as pessoas possam viver melhor. Espero ansiosa por esta estabilidade econômica que tanto sonhamos e que o Governo seja mais humano, e acho que desanimar não é a solução. Temos que acreditar em algo, e colocarmos, senão jamais chegaremos a solução desse impasse.

IZZA – Mas muita gente atribui esta situação ao mau desempenho dos políticos eleitos nas últimas eleições?

MARIA INÊS – Realmente, há multa gente na política hoje que não deveria estar onde está, mas não pense que a coisa possa ser generalizada. Há bons e maus políticos. O povo parece esquecer que ele como eleitor, foi responsável pela escalada destes maus políticos ao poder. E por isso que sempre afirmo que votar é um dever seríssimo, que deve ser consciente, pensado, responsável. O que nós vemos hoje é o resultado talvez de uma ida às umas sem a necessária seriedade para encarar o assunto.

 

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