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“E A LUTA EM FAVOR DA ECOLOGIA”, diz Sigrid Andersen

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Curitiba, 16 de agosto de 1987

 

Sigrid nos dá o prazer da estréia. Esta mulher incansavelmente se dedica a proteger e conservar a natureza, com tudo o que ela nos oferece. Atuante, dinâmica, numa conversa informal, Sigrid fala de sua luta, suas conquistas e de seus planos para o futuro.

 

IZZA- Sigrid, recentemente você ganhou do Clube Soroptimista Internacional de Curitiba, um prêmio como “Mulher Destaque 87′ pelo seu trabalho em defesa da Ecologia. Como vem sendo a sua atuação?

SIGRID – Este prêmio do Clube Soroptimista me sensibilizou muito. Afinal, neste caminho de defesa da natureza, a gente trabalha puramente com ideal, sem esperar nada em troca algumas vezes criando até inimigos no percurso. Quando o reconhecimento existe por parte de algumas pessoas, é sempre uma surpresa gostosa. E a minha atuação vem sendo a mais diversa possível, sempre dentro da Ecologia. Trabalho na televisão com um programa semanal no Canal 2, entrevistando pessoas que se preocupam e fazem alguma coisa importante para a preservação do meio ambiente; escrevo alguns artigos para jornais, trabalho no governo municipal na área de parques e áreas verdes de Curitiba e sou conselheira do Coind Turismo, que trata das políticas de turismo no Paraná. Também como presidente do Conselho Consultivo do Adea desenvolvo trabalhos na área de educação ambiental junto com o professor Bigarela.

IZZA – Você disse que acabou criando inimigos na sua caminhada ecológica. Como é isso?

SIGRID – Eu costumo dizer que o ecologista “romântico” já era. Escrever poesias, chorar após o corte de uma árvore centenária ou a caça de um bichinho em extinção é coisa de ecologista da década passada. Não resolve mais nada. Defender a natureza hoje em dia é no “heavy metal”, é ser guerreiro mesmo, usando a razão, conhecimento e com o pé no chão, porque a destruição vem acontecendo muito rapidamente. Quase sempre os projetos da construção civil que acabam com o verde e o patrimônio cultural de uma cidade, as fábricas poluidoras que jorram fumaça na cara de milhões de pessoas provocando doenças seríssimas e contaminando os rios, as indústrias de agrotóxicos e as políticas de governo pouco coerentes com a concepção de “pólos industriais” gigantescos”, da energia nuclear e a de saneamento básico, envolvem pessoas poderosas e influentes.

É gente gananciosa nos seus lucros, gente de visão imediatista que planeja a vida como se ela durasse apenas meio século e sem considerar as múltiplas consequências danosas de seus projetos. Tento sempre ter uma posição crítica e denuncio, faço estardalhaço, alerto a opinião pública e sou muitas vezes chamada de radical. E, conscientemente, essa é a minha postura. A destruição da natureza vem apocalíptica a partir dos próprios homens. Uma reação contrária é, portanto, radical. Não sou contra o desenvolvimento e o avanço da tecnologia mas não acredito nesse desenvolvimento que está se fazendo, nem nessas tecnologias pesadas.

IZZA – Então como compatibilizar preservação e desenvolvimento?

SIGRID – Existe uma tendência mundial que partiu da UICN – União Internacional de Conservação a Natureza, entidade máxima do meio ambiente no mundo e seriamente preocupada com a exaustão dos recursos naturais do planeta e a cada ano aprimora linhas e filosofias de desenvolvimento no mundo, desde a conferência de Estocolmo em 1972. A UICN propõe o desenvolvimento sustentado, autogestionado. Através do chamado “Eco-desenvolvimento” você consegue preservar, produzir, distribuir renda e poder dentro de uma sociedade de bom modo. Existem bancos espalhados pelo mundo que financiam projetos deste gênero.

Um trabalho muito bonito está sendo desenvolvido no Brasil pelo IEA – Instituto de Estudos da Amazônia que envolve seringueiros e os extrativistas da castanha na selva amazônica. São eles os preservadores e beneficiados de uma atividade econômica Essa visão puramente “conservacionista” de deixar a natureza intacta, impenetrável, intocável, é às vezes meio furada num País como o nosso, pobre e com problemas econômicos e sociais terríveis. As reservas e parques nacionais, como também as áreas de proteção ambiental devem ser demarcadas e  preservadas. São “chacras”, pulmões verdes e viveiros de reprodução animal fundamentais. Em outras regiões é possível desenvolver numa política social e de preservação ao mesmo tempo neste imenso País.

IZZA – Você disse que é conselheira do Coind Turismo Conselho Consultivo da Indústria e Comércio do Paraná. Qual é a ligação entre Ecologia e Turismo?

SIGRID – É total. Você veja, a paisagem natural é um produto turístico também. É a atração – é o admirar a natureza produzindo rendas. Nós temos no Paraná: Vila Velha, a Serra do Mar, as ilhas e o litoral, sem falar nas Cataratas do Iguaçu, a beleza maior. Qualquer complexo turístico implantado nestas áreas deve contemplar a visão ecológica de preservação Anos atrás, a Adea – ASSOCIAÇÃO DE DEFESA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL, presidida pelo professor Bigarela, impetrou uma ação judicial contra a Paranatur por ter instalado lanchonetes e equipamentos cravados na rocha de Vila Velha.

Construíram uma piscina horrorosa sem qualquer perspectiva preservacionista e estética e colocaram entre os arenitos, sapinhos e duendes de concerto. Um mau gosto de doer. Ganhamos a ação judicial e agora a Paranatur está retirando do local esses pequenos e grandes elefantes brancos de Vila Velha com exceção do teleférico de Fuma do Copo que nos parece tecnicamente impossível de ser retirado sem causar desabamentos. A Ilha do Mel e a Serra do Mar são preocupações dos ecologistas também.

IZZA – Você é a favor da exploração turística da Ilha?

SIGRID – A posição dos ecologistas é muito variada. Num ponto todos concordamos, a Ilha deve ser protegida, é um ecossistema frágil demais. Eu pessoalmente acho que o turismo na Ilha do mel tem que ser organizado, controlado e fiscalizado, uma espécie de turismo alternativo com albergues, campings delimitados em áreas especiais, a exemplo de Galápagos no Pacífico, e do próprio Arquipélago de Fernando de Noronha. Sempre respeitando a população nativa

IZZA – E as Cataratas do Iguaçu?

SIGRID – Está nos preocupando. Existe um projeto da Paranatur que logo vai dar briga entre ecologistas e governo. Existe uma proposta da atual gestão de construir uma passarela de concreto sobre as Cataratas. É o fim do mundo! Não bastam os equipamentos já implantados, elevador, passarelas já existentes… Já foi dito que existe verba do Bamerindus para este projeto. Acho incrível e absurdo empetecarem uma beleza natural das mais maravilhosas, de concreto duro e pesado. A beleza está lá, para quem quiser ver.

Já existe uma infra-estrutura suficiente que possibilita você admirar as Cataratas até de cabeça para baixo. Agora, faltam as obras fundamentais como o saneamento básico de Foz, que derrama todo seu esgoto do Rio Paraná, um rio que logo vai atingir índices de poluição altíssimos. Já que estes recursos do Bamerindus estão à mão, deveriam urgentemente utilizá-los na construção de fossas para as lanchonetes perto das Cataratas, que sem qualquer equipamento apropriado, lançam lixo na cara dos turistas.

IZZA – Em setembro você estará indo para a Alemanha. Esta é uma viagem com finalidade ecológica também?

SIGRID – É, sempre. Fui convidada pelo governo alemão para conhecer o Ministério do Meio Ambiente da Alemanha e o trabalho que eles vêm desenvolvendo por lá. Farei um estágio em Berlim Ocidental também na área de planejamento urbano em áreas verdes, onde tentarei conseguir recursos financeiros para a prefeitura de Curitiba. A Secretaria do Meio Ambiente do município está fazendo um belo trabalho na área de preservação dos bosques, que necessitam de mais estrutura. Além disso, adoro a ideia de viver em Berlim, perto do alternativo.

IZZA – Você vai entrar em contato com o Partido Verde da Alemanha, e o que você acha da criação do Partido Verde no Brasil?

SIGRID – Eu já tenho um certo contato com os “Verdes” da Alemanha. Estive lá nas eleições de 1983 quando os “Die Grunam” conseguiram os 5% dos votos e as 27 cadeiras para o Parlamento alemão. Já passei algum tempo vivendo numa comunidade alternativa alemã, trocando muitas informações. Willi Hoss, que é o deputado do PV de Stuttgart esteve em Curitiba em 1985 e pudemos avaliar o caminho dos verdes no mundo. Na verdade, o movimento ecológico vem crescendo consideravelmente, porque a situação do planeta está pior do que se pensa. Além da degradação ambiental provocada pelos projetos nacionais, a ameaça de guerra nuclear, o armazenamento do lixo atômico, o fenômeno estufa e os acidentes com usinas nucleares são realidades inegáveis. Transcendem fronteiras, línguas, raças. A ligação do movimento ecológico é fundamental. As tendências anarco-ecologistas à eco capitalistas. Com certeza tentarei estreitar as ligações Brasil-Alemanha nesta área.

IZZA – E quanto ao Partido Verde no Brasil?

SIGRID – Ainda não vejo com uma plataforma definida, mais abrangente, apesar de Gabeira, que é uma das figuras mais representativas no movimento alternativo no Brasil, ser lúcido e coerente. Acho que estamos apenas iniciando, mas é preciso contemplar os problemas ecológicos do Brasil com as nossas características de terceiro mundo. Existem também outros políticos ligados ao PMDB, PT, PSB, e PDT que também são pessoas seriamente preocupadas com a situação atual do quadro ambiental do país. Nas eleições passadas, apoiei candidatos retirados da “lista verde” que era uma proposta supra- partidária nacional. Infelizmente meu candidato à Constituinte não se elegeu.

IZZA – Existem várias fontes a serem conquistadas, não?

SIGRID – Como você vê, o caminho da defesa da natureza é múltiplo. Existem ecologistas que se dizem apolíticos. Eu jogo com todas as vias possíveis da luta ecológica: trabalho técnico, político, de conscientização através da comunicação de massa e dessa luta diária, pauleira mesmo. Confesso também, que no recreio de toda esta batalha, faço minhas músicas e poesias. Uma pausa ao coração. Romanticamente.

 

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