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“OLHADA DO VISOR DA MÁQUINA, A PESSOA TEM OUTRO VISUAL” comenta Cida Colombo

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Curitiba, 13 de dezembro de 1987

 

CIDA, geminiana, agitada, adora badalações, exposições, aniversários, e receber em casa. Amiga sincera, desde que correspondida. Começou a fotografar por “hobby” e, atualmente, já tem seu espaço certo no campo da fotografia. Cida é a esposa do empresário Luciano Colombo.

 

IZZA – Como foi que a fotografia deixou de ser um “hobby” para você?

CIDA – Às vezes tenho a impressão de que já nasci com a máquina fotográfica na mão. Sempre fazendo, fazendo, só que antes, na base de erros e acertos. Quando fiz minha primeira viagem ao Japão, me encantei com o equipamento fotográfico de lá, e comecei a trazer, sempre sentindo a necessidade de me aperfeiçoar mais, melhorar, aprender. Comecei a fazer cursos, todos que apareciam, tanto aqui como em São Paulo. Fiz um, inclusive, no Japão, na época em que comprei o equipamento, e depois, como se diz, “mais vale a prática do que a gramática”, então, na prática, a gente vai cada dia se aperfeiçoando mais.

Eu sempre gostei de fotografia. inicialmente fazia por “hobby”, mas a partir do momento em que passei a conviver mais, sem querer, comecei a fazer profissionalmente, porque surgiram os pedidos e quando vi estava entrosada. Só comecei a atuar depois que expus na “Canvas”, na época que a Ironita estava lá. Éramos três: eu, Dálio Zippin e Pontoni. Depois disso, começaram as solicitações: me vi envolvida em jornal, exposições, etc., e não adianta, depois que subimos no palco não queremos mais descer. Foi bom, as coisas foram fluindo, acontecendo. Fui comprando equipamento de estúdio, e tornou-se frequente a necessidade de melhorar.

IZZA – No seu rol de amizades, você já tem muito material, não é?

CIDA – Sim, a gente começa fotografando as amigas íntimas, depois as amigas sociais, e chega uma hora em que já se está fotografando pessoas desconhecidas. Agora, acontece muito, essas pessoas desconhecidas tornam-se grandes amigas, porque numa sessão fotográfica ficamos conhecendo mais a pessoa.

IZZA – É importante a intimidade entre a fotógrafa e a pessoa que está sendo fotografada?

CIDA – É necessário um trabalho psicológico antes. Tenho que preparar a pessoa, criar um clima. Do contrário, nada sairia bem. Muita psicologia é importante, por isso eu te digo que a gente passa a conhecer a pessoa que, olhada de dentro de um visor de câmera fotográfica, tem outro visual, passamos a conhecê-la melhor, por isso, muitas, depois de uma sessão fotográfica, passam a ser grandes amigas. Isto pelo fato de olharmos dentro dos olhos, passamos a senti-las, compreendê-las, não só o que são, o que demonstram ser, mas, principalmente, o que gostariam de ser.

Por exemplo: às vezes olhamos fotografias que não têm nada a ver. Uma pessoa tímida numa pose sensual, foi tudo o que ela conseguiu soltar, aquilo que ela gostaria de ser. É interessantíssimo. Cada uma é uma pessoa diferente, uma personalidade distinta, um desafio para mim. Fazer a sessão, depois esperar que a pessoa venha ver as fotos, e sua reação, é incrível. Outro exemplo: quando vem uma mocinha com a mãe, a mãe geralmente quer que a filha saia sorrindo angelicalmente; a menina não, ela quer aquela foto fazendo biquinho que a Xuxa fez, ou um olhar mais glamuroso. Então, posso ver na hora que elas vêem as fotografias, a personalidade das duas, a menina escolhe um gênero, e a mãe outro. É fascinante.

IZZA – Você usa alguma técnica diferente?

CIDA – Procuro usar a técnica de acordo com a personalidade da pessoa. Se for uma pessoa romântica, uso filtros especiais, se for esportiva não posso usar os mesmos meios, porque ela não se encontraria nesse tipo de foto. Depende da finalidade também. O tipo mais pedido é para jornal. A princípio, é isso que elas querem, depois voltam para fazer um outro tipo mais artístico. Vivo no meio de pessoas colunáveis, por isso jornal e revista é uma constante.

IZZA – A mulher moderna sente necessidade de se realizar profissionalmente?

CIDA – Acho que toda mulher tem essa necessidade. Só que algumas não assumem o problema, mas fazer alguma coisa para si mesma é ótimo. Eu sou uma pessoa, eu produzo, faço para mim. Tenho minha família, marido, filhos, casa, mas isso não atrapalha. Como é que a vida do homem não é confusa? Não deixo uma coisa interferir na outra, são os meus dois lados. Este é o da minha individualidade, poder pegar a minha câmara, sair por algumas horas, esquecer os problemas domésticos, é uma realização pessoal.

IZZA – E sobre a sua especialização?

CIDA – Fiz o curso de portrait, técnico de fotografia comercial, e junto com eles, todos os cursos que apareciam. As técnicas fotográficas vêm dos Estados Unidos, os equipamentos podem vir de outro lugar, então não podemos parar no tempo, ter limitações. Por isso tenho que estar sempre inovando, e a especialização é constante. Além dos cursos que eventualmente aparecem, tenho que estar informada, ler livros, revistas importadas. Desde que comecei, o que surge de novo é melhor, filmes, equipamentos.

IZZA – Você já fotografou ou expôs em outros centros?

CIDA – Sim, expus e fotografei em Foz do Iguaçu, Londrina, Rio de Janeiro, São Paulo, e estava com previsões para outros lugares, mas coincidiu com a época das debutantes do Clube Concórdia e do
Country.

IZZA – Você já começou com as colunáveis, que é teu forte, ou teve outro começo?

CIDA – Bem, a princípio eu fiz fotos de moda, a Celinha Domakoski era encarregada do Caderno do Cláudio de moda, me pediu fotos de moda infantil, e aceitei. Acho que, profissionalmente, comecei aí.

IZZA – Você já foi muito premiada, não?

CIDA – Já tive várias premiações em alguns concursos e salões, fui classificada no Arte III do Alex Ramalho, do Advanced da Galeria Phox, Filtros e Efeitos, Lentes e Efeitos Ópticos, Translúcidos, Comercial, no Concurso Paranatur, no Canvas, na Esculturart, no Country Club de Londrina, etc. Isso é compensador para o ego, por- que sabemos que existe muita gente boa no ramo concorrendo, e tirar uma classificação é fantástico. Monetariamente nem sempre é gratificante, a não ser nos grandes concursos, como o da Nikon e Ballantines mundiais.

IZZA – E a concorrência?

CIDA – As pessoas conhecidas, os pioneiros, são bons e continuam no mesmo ritmo, e o lugar deles ninguém tira. Inclusive, alguns até pensam em sair daqui, expandir, crescer mais, porque Curitiba vai até um ponto, um certo espaço, na área de fotografia comercial, principalmente. Um pouco de ciúmes sempre existe como em outras profissões, mas nos respeitamos muito, não há problemas. O estilo diverge. Alguns, que inclusive me deram muita força, me ajudaram. O João Cid, o Dalio Zippin, O Pontoni, o Glen e outros. Me deram dicas, incentivo, e sou grata a eles. Acho que tive apoio porque sabem que eu não vou tirar nada de ninguém. Subimos mais rápido quando levamos mais gente junto, e as pessoas que incentivam são as mais seguras de si, do seu trabalho.

IZZA – O fato da sociedade curitibana ser fechada dificulta o teu trabalho?

CIDA – Acho a curitibana vaidosa, cuidada, veste-se bem, uma das mulheres mais interessadas em se mostrar bem, é o que sinto. Você pode ver que aqui, qualquer coisa é motivo de festa, jantares. Isto se deve às opções que temos, e para o meu campo isto é bom. Por exemplo, aqui as mulheres necessitam muitas fotos para as colunas sociais. A sociedade curitibana é refinada e fechada. Muitas pessoas de fora dizem isto, mas nós, que estamos dentro, temos dificuldade de analisar. O grupo é quase sempre mesmo, e isto não dificulta o nosso trabalho, desde que seja bem feito. Até é bom, uma fala para a outra, é um círculo vicioso.

IZZA – O homem curitibano curte tirar fotos?

CIDA – Eles amam tirar fotografias, o problema é fazer com que eles descubram isto. Quando descobrem e começam, não querem mais parar. Depois que se conscientizam, curtem, assumem. Parecem displicentes, mas se repararmos bem, veremos que eles disfarçam, mas adoram sair bem.

IZZA – E sobre a mostra do Ultrabo, em Londrina, soube que você participou?

CIDA – Foi no semestre passado, em Londrina. Ele é artista plástico, estava lançando bijuterias lindíssimas, me convidou para participar. Teve show de ballet montado com as esculturas e bijuterias, foi lindíssimo. E expor fora é bom, porque as pessoas aceitam, participam e recebem com simpatia.

IZZA – Você sentiu dificuldades de aceitação na família, quando começou?

CIDA – Meu marido aceita porque isto faz parte da minha personalidade. Às vezes, com uma pitadinha de ciúme, principalmente quando tenho que viajar, mas sempre me deu o maior incentivo, que- rendo que eu comprasse, melhorasse, fizesse, nunca me podou em nada.

IZZA – Você acha o paranaense machista?

CIDA – Bem, meu marido é italiano, quando veio da Itália já veio com outra educação, de aceitar a pessoa como é, e participar. O paranaense é machista. Acho engraçado, porque minha mãe era muito feminista, pilotava avião, dirigiu desde cedo e meu pai sofreu por não concordar com muita coisa, ainda mais em cidade pequena, mas acabou aceitando. Se eu tivesse casado com uma pessoa diferente, que não fosse como meu marido, não sei. Acho que nem teria casado. Conheço casos em que a mulher se tolhe porque o marido não deixa, acho esquisito “não deixar fazer alguma coisa”. As pessoas podem renunciar ao que lhes convenha para fazer bem à pessoa amada, mas não porque a outra pessoa não permite. Sou casada há quinze anos, e não tive problemas de apoio, de incentivo, de sinceridade.

IZZA – E você é feminista?

CIDA – Não, pois sempre achei que os direitos são iguais, mas tenho que conquistar meu espaço merecidamente. Nunca tive problemas com a casa e não sou feminista, porque nunca saí batalhando. Por isso acho que cada um tem que se preocupar com o que é. Sei que já conquistei a minha parte, e acho que as outras deveriam conquistar também. Não adianta falar e brigar, e não fazer nada, não querer a parte ruim da coisa, só a boa.

IZZA – Sobre seus planos futuros, há alguma meta já definida a seguir?

CIDA – Profissionalmente, pretendo inaugurar oficialmente o meu estúdio e quero ver se em março já tenho tudo pronto. Continuar fazendo, especializando. Pessoalmente, sou realizada, até parece pedantismo falar assim, mas é a verdade. Não vou dizer que não existe mais nada que eu gostaria, porque a gente sempre tem coisas a desejar, mas tenho recebido tanta graça divina de dar tudo certo, tudo o que me propus realizei, sempre tive apoio da família, dos amigos.

IZZA – Como você procede para atender família, trabalho, etc?

CIDA – Tenho três filhos: Breno, com 12, Jean, com 9 e Mauren, com 6. Parto do seguinte princípio: a tarde é minha, não abro mão dela, a não ser em casos especiais. A manhã e à noite eu divido entre meus afazeres e os três. As sessões de fotos são marcadas à tarde, quando eles estão na escola. Acho que não há problema, partindo dos seguintes pontos: organização, horário certo, coordenação.

IZZA: Se fosse entrevistar uma pessoa como você, o que gostaria de saber sobre ela?

CIDA – Acho que perguntaria receita de dar tudo tão certo na vida, porque, como falei, consigo tudo o que quero. Então perguntaria: “Por que existem pessoas que fazem com que tudo saia bem, e outras têm medo, dúvidas, etc?

IZZA – Então, agora sou eu quem te pergunta: qual é o segredo?

CIDA – Amar a vida, as pessoas, principalmente a mim mesma, e ter certeza de alcançar as coisas. Ter amor retribuído, os esforços recompensados, os investimentos que fazemos nas pessoas, se não neste, no outro lado. Sou super otimista, e as vezes até acho que é defeito. Vejo só as coisas boas. O que não tem solução, solucionado está, não me preocupo mais. Se a gente não tem a resolução imediata, hoje, amanhã, a encontramos. O pensamento positivo, a certeza de termos as coisas resolvidas já é 90% da solução, porque ela, às vezes, está perto, mas não conseguimos enxergá-la.

 

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