Carregando...

“Estamos fazendo a nossa propria moda” diz Martha Schulman

Postado em

Curitiba, 2 de setembro de 1989

 

MARTHA SCHULMAN; executiva de destaque, participa do Conselho Permanente da Mulher Executiva, dedica-se há 20 anos à moda.  Proprietária da confecção M.S., preocupa-se em estar continuamente atualizada para melhor atender às elegantes. Esta é Martha, Sra. Maurício Schulman.

 

lzza – Há quantos anos você é “apaixonada” por moda’?

Martha – Há vinte anos lido com moda, mas a confecção existe há dez anos. Na hora em que criei a confecção, o nome teria que sair rápido, então inventei algo significativo para mim: minhas iniciais M.S. Gosto e estou feliz com os resultados. Muitos me prestigiam aqui, inclusive a Margot Canet da Joy Boutique que foi uma de minhas primeiras clientes.

lzza – Você acha que aqui ainda existe aquele pensamento “o de fora é sempre melhor”?

Martha – Eu acho que não, porque as coisas de fora estão muito mais baratas do que a nossa mercadoria. E o brasileiro continua prestigiando. Eu faço muita seda pura e é a classe ”A” que compra. Vejamos, é esta classe que mais viaja, tendo a possibilidade de pagar cem dólares por uma camisa que pode ser (digo em questão de tecido) melhor do que a minha, mas pode também não ser tão bem feita – porque, convenhamos, a nossa mão-de-obra é excelente, às vezes melhor que a americana, sem dúvida.

Consequentemente, a pessoa pode comprar lá fora mas continua nos prestigiando e muito. Interessante isso porque, de outra forma, as fábricas não poderiam viver. O que existe mais são boutiques de luxo. Veja, nesse inverno, as coisas. em Buenos Aires estavam baratíssimas e para as pessoas pegarem um avião e fazerem as compras lá realmente não era difícil; no entanto, vendemos bastante aqui, apesar de maior preço.

Izza – De onde provêm as melhores idéias no tocante à moda?

Martha – Geralmente as pessoas compram na Europa. Os modelos já estão recopiados, tudo já está passado a limpo. As fábricas de roupa jovem, principalmente de São Paulo e Rio, preferem a Europa; é uma questão de opção.

Izza – Na M.S. quem é a responsável pela escolha dos modelos?

Martha – Sou eu quem crio, compro, pago, sou presidente, diretora-financeira, administrativa, etc. A minha firma é pequena, pois faço somente mil peças por mês e não pretendo aumentá-la, porque assim posso fazer as coisas bem feitas. Crescendo, tudo já se torna mais difícil. É quase um artesanato.

Izza – Qual é o estilo da M.S.?

Martha – É clássico, porque, na verdade, é uma fábrica de blusas de seda. Às vezes, faço algumas saias porque formam um conjunto. Algumas peças com acessórios vendem mais. Me mantenho sempre atualizada e duas vezes por ano vou aos Estados Unidos. No ano passado fui para a Europa, mas decidi continuar indo para os Estados Unidos porque lá já conheço as fontes, etc. Tenho também muitas amigas que viajam e quando vêem alguma coisa interessante, trazem para mim. Elas cooperam comigo. 

lzza – O que você pensa sobre o espaço que a mulher vem conquistando?

Martha – Acho que elas realmente conquistaram o seu lugar. Os homens não devem ter ficado muito felizes conosco, porque um deles nos disse certo dia em uma reunião que o lugar das mulheres é atrás do fogão o que eu acho que está errado, porque os melhores cozinheiros são homens. Na Associação, este ano, fizemos coisas maravilhosas. Uma delas foi a abertura, no Shopping à tarde, que era uma coisa compatível com a realidade; com a situação atual, temos que trabalhar sempre.

Qualquer país que precise iria fazer o mesmo. A outra, foi a volta à produção que é uma coisa muito importante. Uma coisa completa a outra. Este ano foi bastante bom para nós. Acho que, se as mulheres atuassem mais no ministério e uma fosse presidente da República, haveria menos corrupção. Elas trabalham seriamente. Quanto à discriminação salarial, acho que existe, mas temos que ver que também nos Estados Unidos isso acontece.

Izza – Quando você iniciou o seu trabalho qual era a sua atividade?

Martha – Eu trabalhava numa fábrica que fechou. Era orientadora de moda, fazia modelagem. Fiquei dez anos. Quando a fábrica fechou eu abri a M.S., porém muito menor. Com o tempo decidi partir para a confecção, o que foi muito bom. E agora tenho pessoas extremamente competentes que me ajudam, uma equipe excelente. São vinte empregados. Acho que uma fábrica média não serve, ou somos pequenos ou muito grandes.

Izza – O que você acha das confecções aqui de Curitiba?

Martha – Antigamente os lojistas viajavam para São Paulo e Rio para comprar. Atualmente, as nossas fábricas apresentam qualidade, são maravilhosas. Já fui representante e, naquela época, notei que as pessoas queriam exclusividades. Mas agora tudo mudou, já não é mais assim, eu sinto que ninguém mais exige isso. A curitibana é muito fiel, geralmente compra em determinada loja à qual já está acostumada. Claro que, no interior, eu vendo somente para uma loja porque a possibilidade das pessoas se encontrarem é maior. Em Curitiba, a mentalidade melhorou e a cidade cresceu. Também no caso de lojista a fidelidade existe, mesmo que às vezes comprem menos, não deixam de ter a mercadoria. Não tenho pronta entrega porque eu terei que ter outra estrutura. Trabalho mais com pedidos.

lzza – Quais seriam seus planos imediatos?

Martha – Agora vou fazer uma coleção rápida de alto verão que a gente vende setembro, outubro e novembro e, no término desta, faremos a de inverno que começaremos a vender em novembro. Quando entrarmos cm férias co¬letivas em dezembro a coleção já está toda vendida para o ano que vem.

lzza – Para finalizarmos, o que você gostaria de acrescentar?

Martha – Que, realmente, os próximos meses terão que ser de muito trabalho. Os preços da matéria-prima chegam a estar ridículos, e, consequentemente, muita gente não vai aguentar. O preço final da mercadoria é consequência da alta da matéria-prima. O tecido às vezes vem com preço altíssimo e todos estão dando apenas quinze dias como prazo de pagamento ou 50% de juros ao mês. Quem não tem capital de giro, dificilmente terá condições. É um país difícil. Se pensássemos friamente ganharíamos muito mais vendendo máquinas e tudo muda mais agora, com os lucros do “over”. Trabalhar é essencial e acho que não é por aí.

Enviar por e-mail
Verified by MonsterInsights