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“Moda e Talento” reflete Karla Grummp

Postado em

Curitiba, 5 de Maio de 1991

 

KARLA GRUMP; é criativa, e com bom gosto cria, confecciona e borda. Karla adora o que faz e hoje conta um pouquinho da sua vida e da sua atividade. Confira.

 

Izza – Como você chegou a ser uma modista de sucesso?

Karla – Apesar de ter feito Pedagogia e trabalhado um certo período no ramo, eu sempre gostei de criar e confeccionar as minhas roupas. Comecei profissionalmente por brincadeira. Eu trabalhava numa empresa e a certa altura os uniformes já estavam ficando fora de moda. Me ofereci para confeccioná-los. Fiz, deu certo e desde então não parei mais, mas foi um processo lento porque confesso que a princípio eu até sentia certa inibição em dizer que eu costurava.

lzza – Por que você se sentia inibida?

Karla – Acho que as pessoas são muito preconceituosas e eu não queria ser apenas mais uma costureira. Me aprimorei com dedicação e hoje me sinto feliz como modista e faço tudo com o maior carinho. Acho que toda a pessoa nasce com um dom e eu me encontrei no que gosto realmente de fazer.

lzza – Você morou um tempo no Rio de Janeiro. Lá você lidava com moda?

Karla – Foi no Rio que eu realmente comecei a trabalhar com moda. O meu ex-marido tinha quatro lojas num prédio onde só haviam confecções. A nossa, era de acessórios e nesta época eu me realizava dirigindo a parte de criação e de confecção das peças. Aí eu acompanhei tudo muito de perto esta indústria da moda que é muito dirigida e que nada tem a ver com inspiração.

lzza – Por que você acha que a moda é dirigida?

Karla – Ela é induzida pelas indústrias têxteis. Por exemplo: Se numa grande empresa, na estação sobrou muito amarelo e azul, pode acreditar que as duas cores entrarão na próxima estação a todo vapor, para o aproveitamento do material. São os negócios internacionais que impulsionam e que dirigem a moda. Tudo gira em torno de dinheiro.

lzza – E a tua paixão por bordados?

Karla – Começou quando eu frequentava os bailes do Graciosa Country Club, Concórdia e Curitibano. Naquela época era possível termos um vestido novo para cada festa. Nas férias eu viajava para a Europa com meus pais Maria e Waldemar Grummp Filho e lá observava as criações de grandes costureiros. As idéias iam surgindo e eu voltava fascinada.

lzza: Você já pensou em montar uma indústria?

Karla – Não consegui ainda montar uma indústria de roupas de festa porque peguei o início desta época que estamos passando, indefinida e insegura. Muitas que abriram, logo fecharam suas portas por isso não me animei em investir um alto capital numa coisa que pode não me dar o retorno esperado. Depois, hoje as pessoas têm facilidade, como alugar uma roupa de festa a preço acessível.

lzza – Em tua opinião, a curitibana aderiu à locação de trajes de festas?

Karla – A curitibana de A.A, ainda tem muito preconceito quanto a alugar um traje, o que já não acontece no Rio e em São Paulo. Aqui em Curitiba, quem tem poder aquisitivo manda fazer e isto até é uma questão de status. Infelizmente muitas preferem fazer os trajes fora, não valorizando o que temos de bom em nossa cidade. As mulheres de classe B e C já sentem-se mais à vontade locando roupas, por medida até de praticidade e de menores gastos.

Izza – Como você consegue fazer tudo sozinha. Costurar e bordar?  

Karla – O que faço é um trabalho elitizado e dirigido. Já tive auxiliares mas cheguei a conclusão que pra mim era mais difícil passar horas orientando do que fazer sozinha. Sou muito detalhista e perfeccionista e como lido com tecidos caríssimos, eu estava constantemente preocupada com os resultados, Depois uma boa auxiliar é difícil porque aqui a mão-de-obra dificilmente é qualificada e quando a costureira é boa geralmente trabalha sozinha. Este é um prolema que todas que atuam nesta área enfrentam.

Izza – Os bordados estão presentes nas roupas de inverno?

Karla – Fios dourados como no ano passado e bordados inclusive com pedrarias no veludo. Fica lindo. O que vem com força total também é o brocado rebordado.

Izza – Você acha que todo este trabalho é devidamente valorizado?

Karla – Não. Por mais simples que seja o modelo o corte deve ser perfeito. E toda uma técnica a qual as pessoas não valorizam porque não conhecem. Infelizmente ainda existe a mentalidade da costureira de bairro e o que muitas pessoas não conseguem ver é que uma costureira, modista, estilistas, etc, se especializa como qualquer outro profissional e quando isto acontece tem o direito de cobrar o seu trabalho. Acredito que em qualquer área seja assim.

lzza – A Curitibana gosta de lançar moda?

Karla – É incrível como as pessoas gostam de usar o que já viram e o que está sendo usado. A televisão influencia mais do que as revistas.

lzza – E as peles? Você não acha que esta onda ecológica está impedindo sua entrada nas roupas e acessórios?

Karla – Eu não estou sentindo. O que escuto sobre ecologia é só na TV. Penso que as pessoas ainda não se sensibilizaram com o assunto. Depois, aqui a pele mais vendida e usada é a de coelho que já é criado em larga escala para o abate. As outras peles dificilmente aparecem, primeiro pelo custo e depois porque as pessoas têm medo de serem roubadas. Ao contrário da Europa onde as pessoas que usam peles são abordadas até com agressividade, aqui eu nunca soube de nada parecido.

lzza – Com a crise atual as pessoas ainda seguem fielmente os lançamentos e a moda em geral?

Karla – São poucas as que podem seguir a moda à risca pois mesmo as de mais posses não estão podendo. Procuram vantagens, tecidos mais baratos aprenderam a reformar e já não fazem a quantidade de peças que faziam anteriormente. O que sinto é que a maioria fica surpresa com os preços atuais e pena muito antes de entrar num shopping.

lzza – Você se realizou no ramo?

Karla – Me realizo dia a dia. O circuito e a divulgação estão aumentando. Hoje me sinto realmente uma modista que cria e executa com segurança. E no plano pessoal também me sinto muito bem e gratificada. Isso vem da experiência, maturidade e principalmente dos obstáculos que a gente atravessa. Aí a gente começa a enxergar a vida como realmente ela é e não como imaginamos que ela seja. A partir do momento em que você acredita nas coisas e as aceita como são, fica mais fácil porque aprendemos a gostar do que temos e do que somos.

lzza – O que te dá tanta segurança?

Karla – Aprendi a gostar de mim e hoje não tenho mais receio de reconhecer os meus defeitos. Existem pessoas que procuram esconder e enganar, e eu me esforço para não fazer parte do contexto. Tudo isto me proporciona estabilidade e equilíbrio.

lzza – Você é espiritualista? 

Karla – Sou, mas não sigo nenhuma linha com rigor. Gosto e já estudei muito sobre o assunto mas sou autodidata. Todos têm uma forma de expressar a verdade

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