Carregando...

“Versatilidade e bom gosto” expressa Odete Araújo Lima

Postado em

Curitiba, 5 de Agosto de 1990

 

ODETE ARAÚJO LIMA; vende moda, faz moda e destaca-se pela arte de bem receber e servir as elegantes curitibanas. Há mais de 10 anos no ramo Odete é conhecida como sinônimo de requinte e criatividade. Hoje ela nos conta um pouco de sua vida e como desenvolve o seu trabalho.

 

lzza – Como você decidiu entrar no comércio?

Odete – Sempre gostei de moda, desde criança. Trabalhei na Deb’s três anos.

lzza – Você não teve receio em começar o seu próprio negócio?

Odete – Na época não, porque comecei com uma amiga para ver se dava certo ou não e além do mais eu não dependia disso para viver. Como tínhamos muita força de vontade, fomos adiante. Com o tempo, a minha sócia desistiu devido às dificuldades iniciais. E aqui estou quase há 14 anos e nunca quis trocar de ramo. Quero cada vez mais melhorar e atender melhor. Não tenho boutique para ter alguma coisa para fazer, e sim porque gosto e é o meu trabalho.

lzza – O começo foi difícil?

Odete – Foi, porque eu trabalhava muito com griffes, Faganello, Smugler, Luiz de Freitas, Blu Blu. Fiquei 3 anos trabalhando em cima disso e foi difícil. Depois resolvi mudar e entrar numa linha geral. Diversifiquei em termos de artigos. Inclusive pretendo fazer departamentos específicos para cada tipo de roupa.

lzza – De 15 anos para cá, você só aumentou e progrediu. A que você atribui o seu sucesso?

Odete – A dedicação que eu tenho pelo meu trabalho. Mesmo em fase de crise, eu sempre procurei me voltar inteiramente ao trabalho, independente de horário. Também a clientela que temos é realmente especial, muito fiel, continua sendo a mesma. O atendimento pessoal é o segredo. Tenho clientes que telefonam para-saber se eu estou, antes de vir a loja.

lzza – O curitibano dá muita importância à griffe, para comprar uma roupa?

Odete – Numa certa época era uma loucura. Hoje, uma minoria se importa com griffe. Não só o curitibano, como o brasileiro, está mais preocupado com o preço. A roupa pode ser lindíssima, mas se não for acessível fica parada. Veja que há algum tempo atrás a cliente não perguntava o preço, ia separando e queria apenas saber o total. Hoje ela escolhe cinco peças, vê os preços e separa duas ou três. Elas querem comprar mais e pagar menos.

lzza – As roupas de griffe são muito copiadas?

Odete – Isso é um problema. Você compra uma roupa cara e encontra outra igual com a mesma marca, imitação é claro. Apesar de haver certa fiscalização é difícil controlar esta parte. A concorrência existe mais do que nunca. Antes você não se preocupava com o preço que estava na loja, hoje a clientela pesquisa mais. Se você não tiver preço e qualidade, não dá para concorrer no mercado. A cliente passa, olha e dá uma volta, pesquisa e normalmente acaba voltando.

lzza – Você falou que teve que baixar a margem de lucro em virtude da diminuição de preços. E as fábricas baixaram também?

Odete – Fábricas não baixam os preços. Pode ser que para o verão haja alguma mudança, mas elas sempre estiveram numa posição boa. Nós lojistas, que necessitamos da mercadoria, tínhamos que correr atrás sempre.

lzza – Vale a pena trabalhar assim?

Odete – Vale, porque você conserva o cliente. Isso é uma fase que vai passar e temos que trabalhar de acordo com a crise. A partir do momento que você pegar fama de careira, você perdeu a sua clientela, que dificilmente volta.

lzza – Como você vê a moda brasileira?

Odete – Moda não existe mais. Algum tempo atrás existia a moda rotulada e todos usavam praticamente a mesma coisa. Se a moda era roxo, era uma loucura, só se via roxo. Hoje em função da época que vivemos, as pessoas não estão preocupadas com esta ou aquela cor. Elas vão procurar adaptar alguma coisa ao que já tem. Hoje vemos todos os comprimentos de saias, calças de todos os tipos, tecidos diversos. Cada pessoa se veste de acordo com seu gosto e estilo. A mulher não entra numa loja para renovar o guarda-roupa; ela compra o que lhe completa o vestuário. Acho que as mulheres ficaram mais autênticas.

lzza – Dizem que a curitibana é extremamente clássica. Como você teve sucesso vendendo moda arrojada?

Odete – Acho que ela é clássica e talvez o meu sucesso venha em função do meu estilo. Eu fiz uma clientela que se veste de forma diferente. A mulher atual quer se modernizar, parecer mais jovem, moderna. Ela demora para mudar, vai devagar, mas acaba mudando. Já estou recebendo moda verão superarrojada.

lzza – Onde você prefere comprar hoje em dia?

Odete – Eu fico com Belo Horizonte e Porto Alegre. Compro também em São Paulo, mais do que no Rio. E aqui em Curitiba roupas lindíssimas. Acho que brevemente Curitiba estará competindo com os outros centros.

lzza – Não seria mais barato para você comprar em Cu-ritiba?
Odete: Eu não gastaria com fretes, mas acho que eu não teria tantas opções, 10 ou 15 confecções não seriam sufi¬cientes para as minhas lojas. É importante buscar algu-
ma coisa fora. –
lzza: A curitibana é elegante?

Odete – Acho que é elegante em lugares certos. Num chá, numa reunião, num casamento, etc. Não acho elegante na rua, no dia-a-dia. Claro que existem exceções, mas é uma minoria.

lzza – O que você diria para alguém que está pretendendo abrir uma loja? 

Odete – Acho que esta pessoa deveria pesquisar muito, procurar ver realmente qual seria o seu ramo, procurar fazer cursos antes de abrir qualquer negócio, se possível trabalhar numa loja. As pessoas que só passam na Boutique se enganam muito, pois pensam que é fácil. O momento não é favorável para montar nada, ainda mais sem experiência. Quem já está, tem clientela, fornecedores, enfim, uma estrutura, noção de preços. Eu não aconselharia ninguém a entrar hoje no ramo. O segredo de uma loja está na compra. A batalha é grande.

lzza – E quanto à família, como fica?

Odete – É sempre sacrificada. Meus filhos foram criados praticamente dentro da loja. Vem para cá, daqui vão para a escola, voltam, ficam esperando comigo até a hora de fechar.Sempre preferi tê-los perto, em vez de deixá-los com a empregada. Hoje que eles já são independentes, continuam vindo aqui, almoçam, lancham. Eu tive sorte por conseguir que eles se adaptassem ao meu horário e ao meu estilo de vida. Eles nunca me cobraram nada. Deve haver uma cooperação e uma adaptação. Se você for se dedicar em primeiro lugar para a família e depois para a sua atividade, não adianta nem começar que não dará certo.

lzza – O que é importante para a constante atualização de um lojista?

Odete – Eu vou a todas as feiras. Mesmo que eu saiba que não é boa. Compareço porque acho importante você conhecer o melhor. Deve conhecer o ruim também para saber distinguir.

lzza – A Moda de hoje obedece a um critério ou época de lançamento?

Odete – Em matéria de moda, todos os meses temos lançamentos. Não é aquilo que mostram em determinada estação do ano que vamos usar, fielmente. Às vezes ela começa com cores fortes e termina em tons pastéis, como uma forma de aumentar o consumo e assim também o próprio lojistas compra mais. Os lançamentos simultâneos são feitos para aquecer as vendas.

lzza – E a moda, dá para você nos repassar as tendências?

Odete – Achei muito repetitiva. Continuam as bermudas, a seda amassada, javanesa. A única cor nova que talvez entre bem forte é o verde-oliva. De novo vem o mostarda, os tons terrosos. Saias compridas transparentes, muita minissaia, os jeans bordados, franjados, rasgados. Uma repetição do ano passado. Por isso digo que está faltando criatividade e por isso está mais difícil comprar.

lzza – Quais seriam os teus objetivos agora?

Odete – Montar mais uma loja, não sei se será ainda este ano, devido ao plano Collor. Só posso dizer que quando eu acabar a reforma que estou fazendo.aqui na Jesuíno Marcondes, onde quero ter também roupas masculinas, eu pretendo abrir uma nova loja, talvez no Batel ou na Água Verde. Eu já tinha este plano no ano passado, mas acabamos ficando no Shopping Tacla.
 

Enviar por e-mail
Verified by MonsterInsights